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Bolsonaro jogou uma casca de banana no plenário do Supremo

Foi jogada estudada e audaciosa. O êxito só depende da habilidade dos juízes do STF em driblar a armadilha e impedir o candidato de lucrar na campanha

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 abr 2022, 19h38 - Publicado em 22 abr 2022, 08h00
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  • Jair Bolsonaro usou o poder, a caneta e o Diário Oficial para proteger um amigo, Daniel Silveira, deputado federal pelo PTB do Rio.

    Assinou ontem um perdão a Silveira, ex-policial militar, menos de 24 horas depois do Supremo Tribunal Federal condená-lo (por 10 votos a 1) por crimes contra o regime democrático, previstos na Constituição, além de coação durante o processo judicial.

    A rigor, Bolsonaro apenas segue o velho método com que escreve sua biografia. Atravessou as últimas três décadas usando privilégios de cargos públicos para dar proteção à parentela e amigos. Inscreveu muitos na folha de pagamentos do Legislativo, no Rio e em Brasília, ajudou e homenageou outros de sua estima, reconhecidos torturadores, corruptos e mafiosos — ou milicianos.

    A canetada de ontem é inovadora porque gastou dias na preparação e no cálculo dos efeitos. Todo o esforço de planejamento não foi por eventuais virtudes do condenado, um ex-PM do Rio punido mais de 60 vezes em seis anos de serviço público, antes de ser considerado “inadequado” e dispensado pela própria corporação.

    Para Bolsonaro, o amigo sentenciado é útil como peça de campanha eleitoral. Por isso, decretou a extinção da punição imposta pelo STF. Ou seja, indultou o condenado mantendo-o fora da prisão e livre de multas.

    Aproveitou a chance e, com o jeito dissimulado de quem planta explosivo na tubulação de água de uma cidade, jogou uma casca de banana no plenário do Supremo.

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    Está na meia dúzia de palavras com que termina o decreto — “e as penas restritivas de direitos”.

    Elas enunciam uma escalada no confronto com o Supremo, e por extensão com o Tribunal Superior Eleitoral, durante a temporada eleitoral.

    Bolsonaro, intencionalmente, cruzou a fronteira da autonomia entre os Poderes. Não só indultou o amigo condenado à prisão por crimes contra o regime democrático e coação, como também decretou a manutenção dos seus direitos políticos. Em tese, tornou elegível o deputado condenado.

    Indulto não é absolvição, é suspensão de aplicação de pena. Também não é anistia política. Mas, Bolsonaro resolveu pagar para ver os juízes do STF dançando em cima da casca de banana que deixou.

    Eles, agora, terão de decidir se o decreto é constitucional na forma, se teve motivação pessoal ou desvio de finalidade no conteúdo, e se o presidente da República pode, em ato inusual, mudar a condição de inelegível estabelecida na lei da Ficha Limpa para políticos sentenciados a penas elevadas como a imposta ao deputado amigo — oito anos e nove meses.

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    Pode-se entrever dificuldades para o candidato Bolsonaro em explicar ao eleitorado a solidariedade a um político condenado por ameaçar de morte juízes e suas famílias.

    Na tática de marketing, porém, isso representa um punhado de moedas perto do cofre recheado de benefícios potenciais para a candidatura à reeleição, derivados da repercussão pública da batalha contra o Supremo e o TSE.

    Não importa o calibre da resposta dos juízes, vale mais a alavancagem da candidatura na imprensa e nas redes sociais numa escala que é impagável no borderô de campanha gerenciado por Valdemar Costa Neto, do Partido Liberal, e de custo inacessível aos adversários.

    Foi jogada estudada e audaciosa. O êxito só depende da habilidade dos integrantes do Supremo e da Justiça Eleitoral em driblar a casca de banana na fronteira entre os Poderes e enquadrar o ato presidencial na letra da  Constituição, impedindo que o candidato consiga lucrar na campanha com a decisão judicial.

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