Este é o segundo post de uma série publicada neste espaço sobre os resultados da Prova Brasil 2015, divulgados recentemente pelo MEC. Veja aqui a lista completa de posts
Aprendemos na escola que não dá para somar bananas com laranjas. Três bananas com quatro laranjas dá o quê? Sete frutas? Uma vitamina?
O IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, divulgado recentemente – é mais ou menos isso. Neste post vamos examinar três questões sobre o IDEB: por que o IDEB não dá uma ideia clara do desempenho de uma escola ou rede de ensino; por que não se pode afirmar que o IDEB nota 6 equivale ao nível médio dos países desenvolvidos, como afirma o MEC; e por que o IDEB reflete uma teoria equivocada a respeito de como melhorar a educação.
Por que uma o IDEB não indica o desempenho de uma escola ou rede?
A razão é simples: o índice inclui dois elementos, notas da Prova Brasil (avaliação nacional de Língua Portuguesa e Matemática) e taxa de aprovação das escolas. Ou seja, aumentar a taxa de aprovação aumenta a nota do IDEB, mas não aumenta necessariamente a qualidade do ensino. Na verdade o IDEB mascara o efetivo nível de conhecimentos. O Boletim IDados da Educação mostra isso com clareza (clique aqui para fazer o download gratuito).
Por que não se pode afirmar que o IDEB 6 (meta do MEC para 2021) equivale ao nível médio dos países desenvolvidos?
Há duas razões para isso. A primeira é a razão acima – o IDEB não reflete apenas os conhecimentos dos alunos, portanto uma nota 6 no IDEB pode significar diferentes realidades. A segunda razão é mais técnica: há duas formas conhecidas para se estabelecer comparações de desempenho. Uma delas requer aplicar um mesmo teste nas duas populações que se quer comparar – ou numa amostra representativa da mesma. Isso é o que se faz em testes como o Pisa. A outra forma de comparar resultados se faz por meio de uma técnica estatística denominada equalização, que requer o uso de itens-âncora devidamente testados nas duas amostras que se quer comparar– como se faz por exemplo para comparar testes elaborados por redes estaduais de ensino que querem se comparar com a Prova Brasil. Como nunca foi feita a equalização entre a Prova Brasil e o Pisa, não é possível comparar resultados dessas duas provas. Qualquer afirmação em contrário é desprovida de fundamento.
Cabe ressaltar, a favor do IDEB, que desde a sua instituição em 2005 houve uma redução significativa nas taxas de reprovação. Pelo menos para isso ele serviu. E, indiretamente, isso contribuiu para melhorar as notas.
Por que o IDEB reflete uma teoria equivocada sobre como melhorar a educação?
Melhorias consistentes na educação de um país resultam de reformas bem estruturadas e implementadas de maneira consistente e progressiva. Nas reformas bem feitas, os resultados vão aparecendo dentro de um espaço relativamente curto de tempo, se consolidam e propiciam avanços num tempo relativamente rápido. Se os resultados não aparecem, as estratégias são revistas. Países asiáticos como Cingapura e Coreia transformaram seus sistemas de ensino em líderes mundiais em períodos que variaram de 15 a 30 anos, respectivamente. A Finlândia, que começou num patamar mais alto, em menos de 10 anos. Já reformas pontuais – como por exemplo a introdução de novas práticas de alfabetização, como ocorreu no Estado da Califórnia ou no Reino Unido, podem dar resultados sólidos dentro de 3 a 4 anos, desde que bem planejadas e executadas.
O IDEB não significa nada com precisão, portanto não é um bom indicador. Mas seus dois indicadores, a taxa de reprovação e as notas da Prova Brasil, são muito valiosos, separadamente.
No próximo post vamos usar as notas da Prova Brasil para explicar por que conseguirmos avançar mais nas séries iniciais do que nas demais.
*Para obter os gráficos e dados levantados pelo IDados para esta série de posts, entre em contato com comunicacao@alfaebeto.org.br