Veja o paradoxo: é óbvio, parte do senso comum, que quem estuda mais aprende mais. E as evidências mostram isso. Claro que há pessoas superdotadas que aprendem muito estudando pouco. Mas isso é raro – menos de 1% das pessoas são assim. O resto delas é como nós – tem que se esforçar para aprender. Isso vale para todos os indivíduos, em qualquer país.
Por outro lado, quando examinamos as estatísticas dos países com melhores níveis educacionais, nós observamos que o tempo que os alunos passam na escola e fazendo deveres de casa não tem muita relação com o desempenho médio desses países. A maioria dos países oferece cerca de 800 e podem chegar a 900 nas séries mais avançadas. Os que oferecem muito mais do que isso não têm médias melhores. O mesmo se aplica ao tempo que os alunos passam fazendo deveres de casa. De novo: isso se aplica ao conjunto dos alunos, não a alunos individualmente.
Que lições podemos extrair dessas informações – aparentemente contraditórias? Há duas lições importantes.
Primeira lição: o que mais importa não é o tempo, é o uso do tempo. O tempo bem usado vale muito mais do que muito tempo mal usado. Nos países desenvolvidos, normalmente se aproveita de 85 a 90% do tempo de aula na sala, no Brasil se aproveita menos de 60%.
Segunda lição: estudar é importante, muito importante. Mas estudar não significa apenas ter aulas. O aluno precisa ter tempo para pensar e para fazer outras coisas – especialmente coisas que sejam de seu interesse, pois nem tudo que é preciso estudar na escola interessa aos alunos. É preciso equilíbrio.
Portanto, antes de pensar em escolas de tempo integral é preciso aumentar o uso do tempo dentro da escola – e nos deveres de casa. Mas, se o prefeito quer fazer escolas de tempo integral, é preciso criar espaços adequados para o aluno passar o dia inteiro fazendo atividades escolares e outras que contribuam para a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento. Escola de tempo integral não deve ser sinônimo de aula o dia inteiro. Nem sinônimo de fazer um puxadinho no outro turno. Mais de dois bilhões de reais foram gastos com um programa chamado “Mais Educação” – e não houve qualquer impacto na melhoria do desempenho dos alunos. Como os recursos das prefeituras são limitados, é preciso pensar duas vezes antes de avançar nessa direção.