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Augusto Nunes

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Os quadrilheiros do mensalão recitam que não recebiam pagamentos mensais. Têm razão: eles roubavam todos os dias

Leiam as observações, sempre oportuníssimas, do nosso Ethan Edwards. Comento em seguida: Um erro de origem debilita a acusação contra o PT e seu governo: a palavra “mensalão”. Inventada por Roberto Jefferson, que com ela pretendeu resumir o que se passava nas relações entre o governo e seus aliados, a palavra não expressa com justiça […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h47 - Publicado em 20 fev 2011, 16h32
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    Leiam as observações, sempre oportuníssimas, do nosso Ethan Edwards. Comento em seguida:

    Um erro de origem debilita a acusação contra o PT e seu governo: a palavra “mensalão”. Inventada por Roberto Jefferson, que com ela pretendeu resumir o que se passava nas relações entre o governo e seus aliados, a palavra não expressa com justiça (na verdade, oculta) o que de fato acontecia ─ e é, por isso, o ponto em que se aferra a defesa da grande quadrilha. Por tudo o que se publicou na época, é óbvio que não havia mensalão no sentido que o termo sugere, isto é, um pagamento mensal, regular, com valores mais ou menos fixos, que o governo destinaria a seus aliados.

    Havia, sim, um gigantesco esquema fraudulento pelo qual o governo, por meio de bancos que ele controla, bancos “amigos” e agências de publicidade (Marcos Valério à frente), transferia recursos oriundos de órgãos públicos, empresas estatais, fundos de pensão, etc. para políticos do PT e da “base aliada” no sentido de pagar serviços passados e futuros, aliviar dificuldades de caixa, cobrir gastos de campanha, socorrer amigos necessitados, etc. Em suma, um enorme, monumental caixa secreto, abastecido com recursos públicos, uma espécie de Tesouro Nacional Petista, controlado politicamente por quem se sabe, operado em diferentes níveis hierárquicos por (1) petistas muuuuito graúdos, (2) dirigentes do partido, (3) funcionários do partido e (4) Marcos Valério e sua agência.

    É um esquema muito maior, mais sério, capaz de causar muito mais dano à República do que um trivial “mensalão” – uma folha de pagamento paralela destinada a 100 ou 200 parlamentares. Por isso, com perdão do caríssimo Augusto Nunes e dos amigos da coluna, considero um erro acusar o PT e o governo com uma palavra deliberadamente equívoca inventada por Roberto Jefferson.

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    É isso, exatamente, o que desejam os advogados da quadrilha: que a discussão se fixe na palavra “mensalão”, porque nesse caso, com dois ou três argumentos, eles provam que não houve pagamentos mensais regulares, que não teria sentido o PT pagar seus próprios parlamentares para que votassem com o governo, que é costume os partidos usarem restos de dinheiro de campanha para cobrir despesas de seus parlamentares, etc. Desaparece o Tesouro Nacional Petista. Desaparecem seus operadores e até mesmo o valerioduto. Restam João Paulo e seus 50 mil reais, Silvinho e seu Land Rover, mais dois ou três ladrõezinhos mixurucas a gastar sobras de campanha. E é isso que esperam os grandes, os enormes ladrões da República, para que possam dormir serenamente em seus lençois de linho egípcio.

    Mais uma vez, Ethan Edwards foi direto ao ponto. Para escapar da cadeia, a quadrilha que promoveu o Grande Roubo popularizado com o nome de Mensalão transformou-se na mais fervorosa guardiã do calendário gregoriano: só teriam existido mensaleiros, recitam, se os assaltos fossem consumados uma vez por mês. Nesse aspecto, os meliantes estão cobertos de razão. Os crimes ocorriam todo dia, ou de hora em hora, ou de minuto em minuto.

    Seja lá qual for seu nome, o essencial é que a roubalheira imensa seja exemplarmente punida pelo Supremo Tribunal Federal. A denominação dos gatunos é irrelevante. O que importa é o STF compreender que o bando merece castigo. Nas melhores cadeias, aliás, ninguém é chamado pelo ofício que exerceu fora dali. Ninguém será tratado como mensaleiro pelos guardas do presídio. Todos serão identificados por números.

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