Em 20 de maio de 1969, em sua coluna no Globo, Nelson Rodrigues tratou de um dos mais perturbadores fenômenos do século 20: a ascensão espantosa e fulminante do idiota.
Até então, lembrou o grande cronista, os integrantes da tribo se limitavam a babar na gravata. “O idiota era apenas idiota e como tal se comportava”, escreveu Nelson. “Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha ou tirar uma cadeira do lugar”.
“Nunca um idiota tentou questionar os valores da vida”, segue a procissão de verdades. “Decidiam por eles os que tinham cabeça para pensar e sabiam o que faziam”.
Para o cronista, as coisas haviam mudado dramaticamente. “Houve, por toda parte, a explosão dos idiotas”, espantou-se Nelson. Passados quase 50 anos, o Brasil vem mostrando que o que está péssimo pode piorar. Os idiotas estão nos Três Poderes. Pelo menos dois chegaram à Presidência da República. São majoritários no Congresso. E vem ensinando no Supremo Tribunal Federal o que deve ser feito para submeter um país à permanente insegurança jurídica. Os idiotas perderam de vez o pudor.