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Augusto Nunes

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O recesso forçado da liberdade

O desembargador Dácio Vieira demorou alguns minutos para decidir que o empresário Fernando Sarney, filho do ex-patrão e eterno padrinho José Sarney, precisava de socorro. E proibiu o Estadão de publicar notícias que deixassem a Famiglia mal no retrato. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal demorou alguns minutos para decidir que o desembargador indicado […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 16h10 - Publicado em 22 dez 2009, 15h00
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  • O desembargador Dácio Vieira demorou alguns minutos para decidir que o empresário Fernando Sarney, filho do ex-patrão e eterno padrinho José Sarney, precisava de socorro. E proibiu o Estadão de publicar notícias que deixassem a Famiglia mal no retrato.

    O Tribunal de Justiça do Distrito Federal demorou alguns minutos para decidir que o desembargador indicado por Madre Superiora era suspeito demais para julgar o caso. Demorou mais uma hora para decidir que a questão só poderia ser resolvida pelo Tribunal de Justiça da Capitania Hereditária do Maranhão.

    O Supremo Tribunal Federal demorou uma tarde para decidir por, 6 votos a 3, que a censura prévia, embora expressamente proibida pela corte, não deve ser tão proibida assim. Além do mais, o direito à liberdade de expressão deveria ter sido reivindicado pela vítima com base em outros artigos, parágrafos ou incisos. E avalizou a afronta.

    Fernando Sarney demorou uma troca de ideias com o pai para decidir que seria eleitoralmente arriscado virar o ano brindando à infâmia liberticida. E retirou a malandragem que mantém o Estadão em silêncio há 150 dias.

    A Justiça vai demorar muito mais tempo para formalizar o fim da censura que nunca deveria ter existido e já não é reivindicada oficialmente por ninguém. O recesso do Judiciário está acima dessas miudezas e irrelevâncias. Os juízes precisam descansar.

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    Só no ano que vem o Tribunal de Justiça do Distrito Federal irá, primeiro, perguntar ao jornal se aceita livrar-se da mordaça e só depois decidir. No Brasil, o castigo não pode ser interrompido sem o consentimento do castigado.

    É compreensível que a 1ª Conderência Nacional de Comunições tenha produzido toneladas de papelório inútil e nem sequer uma vírgula sobre a censura ao Estadão. É compreensível que o rebanho companheiro, até agora cúmplice por omissão, comece a endossar com balidos aprovadores o estupro da Constituição.

    Os inimigos da liberdade já não enxergam motivos para constrangimentos ou inibições. Eles acham que está tudo dominado. Precisam saber que não.

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