Há alguns meses, o economista de Harvard Dani Rodrik, um dos mais conceituados do mundo, foi questionado sobre qual país encontrava-se mais subestimado perante a opinião pública global e a comunidade de investidores.
Rodrik não teve dúvidas e cravou: “Brasil”. Argumentou, em referência ao combate à corrupção, que os brasileiros “…estão demonstrando uma maturidade política de operação do sistema décadas à frente mesmo de países industriais mais avançados (…) Eu apostaria no longo prazo no Brasil”.
Mais recentemente, a decisão britânica de dizer adeus à União Europeia (UE) deslocou o eixo gravitacional de risco mundial. Se até há pouco os países emergentes, com o fim do superciclo de commodities e a suposta retomada do crescimento nas nações da OCDE, eram a bola negativa da vez, tal tendência, ao menos conjunturalmente, mudou.
Ficou mais difícil, num contexto de eventuais fraturas na UE e no próprio Reino Unido, assistir a uma decisão pelo aumento das taxas de juros praticadas pelo FED, o banco central norte-americano. Tudo isso favorece àqueles que, como o Brasil, precisam colocar a casa macroeconômica em ordem.
Além disso, muitos capitais ociosos no mundo buscam oportunidades de M&A (fusões e aquisições), atraentes no Brasil pelo menor valor de empresas quando comparado aos níveis de “Brasilmania” (sobretudo entre 2007 e 2012). Há ainda abundantes recursos no mundo para projetos de infraestrutura —tão necessários e potencialmente lucrativos no Brasil.
E agora vários projetos de infraetrutura deixaram de ser itens de apresentações de power-point. O governo brasileiro sinaliza com um programa de concessões ambicioso. Outros países já apontam a viabilidade de iniciativas amplamente transformadoras, como a ferrovia Bioceânica, desenhada para conectar o Brasil ao Pacífico.
Em estudo realizado pela empresa chinesa CREEC, aponta-se que a Bioceânica abrangeria um período de construção estimado em nove anos e a ferrovia se estenderia por 5.000 quilômetros. Teria ponto de partida em Goiás, atravessaria a Cordilheira dos Andes e terminaria em Bayovar, no Peru. Na largada, o projeto começa levando 23 milhões de toneladas de carga. Após 25 anos, chega a 53 milhões de toneladas.
Estranha e inesperadamente, a atmosfera que envolve o Brasil melhorou. No entanto, investidores de mais longo prazo, seja os interessados na infraestrutura, seja os que querem comprar ou expandir negócios no Brasil, precisam de um mínimo de chão firme. Necessitam do símbolo de uma virada de página. Aguardam a confirmação do impeachment da presidente afastada. Esperam —e torcem— pelo “Dilmexit”.
O Brexit implica algumas repercussões para o Brasil. Mas o Reino Unido não representa um destino crucial para nossas exportações (embora haja muito potencial a explorar), e o Brasil seguramente não é prioridade para o investimento estrangeiro direto (IED) britânico (e aqui também há muito a expandir).
Há, é claro, significativos impactos nos delineamentos da globalização, mas isso não se dá da noite para o dia. E, com sabedoria e estratégia, o Brasil poderá adaptar-se.
Já o “Dilmexit” produz efeitos —todos positivos— absolutamente imediatos. Representa o fim de uma era. Significa parar de piorar. Voltar ao caminho da reconquista do grau de investimento. Abandonar uma postura diplomática terceiro-mundista. Reduzir a influência do bolivarianismo no Brasil e seu peso em toda América Latina. Reforçar o que deve ser o interesse nacional.
O “Dilmexit” possibilita uma retomada do tripé macroeconômico. Permite ao menos sonhar com reformas modernizantes na política, previdência, trabalho e na área fiscal. Ter um modus operandi no serviço público mais meritocrático. Diminuir espaço para uma política industrial de compadrio. Apontar, enfim, à volta do crescimento.
Para o futuro próximo do Brasil, não há dúvida. O “Dilmexit” é mais importante que o Brexit.