Estudo revela o impacto inesperado do jejum no crescimento capilar
Investigação foi realizada com camundongos e um pequeno grupo de humanos

O jejum intermitente é um tipo de dieta praticada há séculos por diferentes grupos humanos, mas nas últimas décadas houve uma popularização desse tipo de abstinência voluntária devido aos seus supostos benefícios para o corpo. De fato, têm surgido evidências preliminares sobre os efeitos positivos na saúde metabólica, mas à medida que crescem as investigações, também são descobertos os efeitos colaterais – e um deles é sobre o crescimento capilar.
Essa consequência da dieta ficou evidente em um estudo publicado na última semana, no periódico científico Cell. O que os pesquisadores viram foi que animais e um pequeno grupo de humanos submetidos a esse regime alimentar tinham uma diminuição no crescimento de pelos ou cabelo. “É importante estar ciente de que ele pode ter alguns efeitos indesejados”, disse o autor do estudo, Bing Zhang, em comunicado.
Qual o efeito dos cogumelos no cabelo?
Para fazer essa investigação, cientistas chineses submeteram camundongos ao jejum intermitente. Todos os animais passaram por uma tosa completa, mas eles foram divididos em três grupos diferentes:
- Controle: tinham alimento 24 horas por dia
- Jejum 1: tinham alimento por apenas 8 horas por dia
- Jejum 2: faziam jejum de 24 horas em dias intercalados
O que os resultados mostram é que, enquanto os pelos do grupo controle cresciam completamente depois de 30 dias, os animais submetidos ao jejum ficaram pelo menos 96 dias com a pelagem abaixo do normal.
Isso acontece porque, na ausência do açúcar proporcionado pela alimentação, o corpo começa a liberar ácidos graxos provenientes dos estoques corporais de gordura, e que também servem como fonte de energia. “Esses ácidos graxos entram nas células-tronco do folículo capilar que foram ativadas, mas essas células-tronco não têm a maquinaria certa para usá-los”, explica Zhang. Como a célula não consegue gerar energia a partir dessa substância, isso gera um estresse que faz com que ela seja destruída, atrapalhando o crescimento capilar.
Os pesquisadores também fizeram um pequeno teste clínico em que avaliaram o impacto da dieta na regeneração folicular. O que observaram foi que, nos oito indivíduos submetidos a dieta o crescimento foi, em média, 18% menor do que nos participantes que se alimentaram normalmente. Os camundongos também têm uma taxa metabólica muito alta em comparação com os humanos, então o jejum e a troca metabólica têm um efeito mais severo sobre as células tronco do folículo capilares de camundongos”, afirma Zhang.
Isso não quer dizer, necessariamente, que o jejum seja ineficiente. Estudos com animais e com humanos atestaram a capacidade dessa dieta na redução de peso e na melhora de fatores metabólicos a curto prazo. Além disso, de maneira geral, essa é prática segura, Contudo, ainda existem poucas investigações que elucidem outros efeitos positivos ou as consequências a longo prazo.
Quais os efeitos adversos do jejum intermitente?
Esse não é o primeiro estudo mostrando efeitos indesejados desse tipo de dieta. Um artigo preprint – ainda não revisado por pares –, publicado em maio, mostra que pessoas submetidas a 16 horas de jejum por dia podem ser mais propensas a morrer por doença cardiovascular. Além disso, um outro trabalho, com universitários brasileiros, mostrou que esse tipo de regime alimentar está associado ao desejo intenso por comida e a compulsão alimentar, enquanto outro revela contraindicação para pessoas com histórico de câncer intestinal.
No futuro, mais estudos precisam ser realizados para garantir a segurança a longo prazo e os efeitos sobre outros sistemas do organismo. “Pretendemos examinar como este processo afeta as atividades de regeneração em outros tecidos”, diz Zhang. “Também queremos descobrir como o jejum afeta a cicatrização de feridas na pele e identificar metabólitos que podem ajudar na sobrevivência de células tronco e promover o crescimento capilar durante o jejum.”