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Jejum intermitente melhora memória a curto prazo, mas tem restrições

Dieta pode melhorar função executiva, no entanto, não é adequada para todos os perfis de saúde e prática não costuma ser mantida por pacientes

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 ago 2024, 16h00

Um novo estudo piloto publicado no periódico científico Cell Metabolism sugere que o jejum intermitente pode ter efeitos positivos na saúde do cérebro a curto prazo, especialmente na memória e na função executiva, em adultos mais velhos com resistência à insulina. A pesquisa, conduzida por cientistas do National Institute on Aging (NIA) e da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, envolveu 40 participantes com idades entre 55 e 70 anos, todos com sobrepeso e cognitivamente saudáveis. 

Durante oito semanas, os voluntários foram divididos em dois grupos: um seguiu um plano de jejum intermitente 5:2, no qual consumiam apenas 480 calorias em dois dias da semana e uma dieta equilibrada nos outros cinco dias. O outro grupo seguiu uma dieta de “vida saudável”, baseada em controle de porções e redução calórica, conforme as diretrizes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Benefícios para a memória

Os resultados mostraram que ambos os grupos apresentaram melhorias na função executiva e na memória, mas o grupo que praticou o jejum intermitente teve resultados superiores em alguns testes cognitivos. Em particular, houve um aumento significativo na capacidade de aprendizado e memória, principalmente em testes de recordação de longo prazo.

“Os benefícios observados no estudo refletem o efeito imediato do jejum intermitente, que reduz a disponibilidade de glicose no organismo e força o corpo a usar corpos cetônicos, produzidos a partir de gordura quando a glicose é escassa, como fonte de energia”, explica Antonio Lancha Júnior, professor titular de Nutrição da Universidade de São Paulo (USP).

Vale lembrar que a maior parte do sistema nervoso central não depende da insulina para absorver glicose. Porém, há uma área específica do cérebro, próxima à região da memória, que é dependente de insulina. Por isso, a curto prazo, pacientes que praticam o jejum intermitente podem obter resultados positivos nesse sentido. 

 “Quando você melhora temporariamente a disponibilidade de glicose e a captação de corpos cetônicos, é possível observar uma resposta positiva nessa área, o que pode explicar os benefícios cognitivos observados”, completa o especialista.  

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Sem alterações nos biomarcadores do Alzheimer

Dessa forma, o estudo indicou que o jejum intermitente pode reduzir o envelhecimento cerebral. A medição de BrainAGE, que avalia o ritmo de envelhecimento do cérebro, mostrou uma desaceleração nesse processo para ambos os grupos, com destaque para o grupo do jejum intermitente.

Entretanto, a pesquisa também revelou que, apesar das melhorias na função cognitiva, os níveis de biomarcadores relacionados ao Alzheimer, como o beta-amiloide e a proteína tau fosforilada, não sofreram alterações significativas. Esse dado sugere que os benefícios do jejum intermitente para a saúde cerebral podem não estar diretamente ligados à redução desses marcadores, pelo menos no curto prazo.

A degradação de proteínas importantes 

Quando se pratica o jejum intermitente, o corpo passa por um período de falta de energia, dependendo de quanto tempo o indivíduo fica sem comer. Durante esse tempo, o organismo entra em um estado catabólico, no qual começa a quebrar proteínas corporais para compensar a falta de carboidratos, que, normalmente, fornecem glicose (a principal fonte de energia). 

Em outras palavras, começa a usar proteínas, que fazem parte da estrutura dos músculos e outros tecidos para gerar a energia necessária. Isso significa que, durante o jejum, o corpo não só utiliza a gordura, mas também degrada proteínas estruturais para manter o funcionamento adequado. 

“Esse processo pode ter um impacto negativo, especialmente em idosos ou em pessoas com certas doenças, como o câncer. Nos idosos, por exemplo, o jejum intermitente pode acentuar a sarcopenia, que é a perda de massa muscular relacionada ao envelhecimento. Já em pacientes com câncer, o jejum pode intensificar a caquexia, uma condição em que há uma rápida perda de massa magra”, alerta Lancha Junior. 

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Limitações do estudo e da dieta 

Embora os resultados obtidos na pesquisa sejam positivos, os pesquisadores destacam que o estudo foi curto e envolveu um número limitado de participantes. Por isso, são necessárias pesquisas mais abrangentes e duradouras para confirmar esses achados e avaliar se os benefícios do jejum intermitente são sustentáveis a longo prazo. No, entanto, para o professor de Nutrição da USP o problema já começa aí:

“O jejum intermitente tem como característica a não sustentabilidade. A  literatura científica é bem consistente ao demonstrar que as pessoas, normalmente, não conseguem manter essa prática por um longo período de tempo.”

Conclusão e recomendações 

“Cientificamente, ainda falta uma justificativa robusta para a prática do jejum intermitente em comparação com a restrição calórica sem jejum. Ambas as abordagens levam a uma redução calórica, mas o jejum pode resultar em perda de massa magra, enquanto a restrição calórica sem jejum tende a evitar esse prejuízo, o que pode ter um impacto crônico muito importante na saúde”, ressalta Lancha Junior. 

Portanto, o especialista aconselha que os pacientes tenham como foco o déficit energético e não o jejum em si. Pois, os bons resultados demonstrados no estudo podem ser alcançados com pequenas mudanças na rotina como caminhadas ou outras atividades físicas simples.

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