É raro encontrar quem não tenha experimentado, em algum momento da vida, a picada dolorida de uma Hymenoptera. O nome pode não soar familiar, mas ele abarca um grande grupo, do qual fazem parte as milhares de espécies de abelhas. A má sorte de uma dessas rápidas ferroadas pode parecer um evento simples, mas ela envolve a formulação de um coquetel complexo que conta com pelo menos 12 famílias de toxinas – tão importantes que surgiram antes mesmo dos ferrões que surgiram para injetar o veneno nos inimigos.
Essa descoberta acabou de ser feita por um grupo de pesquisadores alemães, e ela apareceu quase por acaso. A ideia inicial era estudar os genes relacionados aos venenos para entender quando eles surgiram na história evolutiva desses animais, mas o que eles viram é que os elementos genéticos que contêm as receitas para essas 12 famílias estavam presentes em todos os membros do grupo Hymenoptera – inclusive nos mais primitivos, que ainda não tinham ferrão.
“Evidentemente, o ancestral comum desses animais já possuía esses genes”, explicam os autores do artigo publicado no periódico científico BMC Biology, em comunicado. “Para outros grupos, como o Toxicofera, que inclui cobras, lagartos e iguanas, a ciência ainda debate se os venenos podem ser rastreados até um ancestral comum ou se evoluíram separadamente.”
Qual a utilidade do veneno sem um ferrão?
Os ferrões surgiram como uma ferramenta de defesa, que permite que esses venenos fossem injetados quando os animais se sentem ameaçados, mas nos insetos desprovidos dessa tecnologia evolutiva, os compostos também podem ser importantes. Nos conhecidos como Symphyta, por exemplo, essas proteínas e peptídeos são depositadas junto com os ovos, em plantas, para facilitar o desenvolvimento das larvas.
Apesar dessa descoberta ser a que mais chama atenção, ela não foi a única. Os pesquisadores descobriram uma família inteira de novas toxinas, que foram nomeadas antrofilina-1. Além disso, eles viram que o gene da Melitina, um peptídeo que compõe a maior parte do veneno injetado, está presente em uma quantidade muito menor no DNA do que se acreditava necessário para produzir uma quantidade tão grande do veneno.
Em trabalhos futuros, os pesquisadores continuarão pesquisando ancestrais desses animais para descobrir em que momento da evolução essas substâncias aparecem.