Já chega a 130 número de botos vermelhos e tucuxis mortos no Lago Tefé, no Rio Solimões, um dos maiores da região amazônica. A primeira baixa foi no dia 23, quando os pesquisadores acharam 19 carcaças de uma população estimada de 900 botos. Para quem está acostumado a vê-los nadando e saltando nas águas abundantes da região, os últimos dias foram de muita tristeza.
O Lago do Tefé tem cerca de 12 quilômetros quadrados de área e geralmente chega a 6 metros de profundidade em média. Com a seca das últimas semanas, as águas aqueceram nove graus e o volume diminuiu pela metade. “Os botos continuam morrendo. É desesperador”, diz Miriam Marmontel, 66 anos, líder do grupo de pesquisa em mamíferos aquáticos amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
O desespero da pesquisadora aumenta a cada minuto, pois os animais continuam morrendo e falta estrutura para que seja possível identificar os reais motivos, que levaram a esse desastre. “Sabemos que não é apenas o aquecimento da água. Suspeitamos de contaminação da água.” Miriam explica que se fosse apenas a elevação da temperatura, os botos teriam escapado para as águas mais frescas do oceano. “Eles são animais inteligentes. E parecem estar meio abobados, desorientados.”
Os pesquisadores estão trabalhando dia e noite, procurando indícios da causa das mortes. As necrópsias das carcaças não revelaram motivos aparentes, por isso as apostas recaem sobre possíveis agentes infecciosos. “E para isso, precisamos analisar a água, o que só pode ser feito em São Paulo.”
É justamente aí que começa a segunda parte do drama. Trata-se de uma região praticamente isolada. De barco, leva-se dois dias até Manaus. A amostra de água tem validade e 24 horas. No domingo, a equipe conseguiu um helicóptero do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodversidade (ICMBio) para transportar a amostra até o aeroporto da capital do estado e então embarcá-la para São Paulo.
Quando conseguiram alcançar o aeroporto de Manaus, foram tantos os impedimentos burocráticos que não deu tempo. A água estragou e a equipe teve de voltar à Tefé para pegar outra amostra. “Agora conseguimos que um avião do Greenpeace venha buscar um frasco novo.” Os pesquisadores estão em uma batalha contra o relógio. “Minha vida é dedicada aos botos e lontras”, conta ela. Temos aqui os especialistas mais experimentados da área e simplesmente não adianta nada, porque não conseguimos apoio para levar o material para São Paulo.”
Além do trabalho incessante de investigação, há equipes que se dedicam ao monitoramento dos animais vivos e captura dos que estão debilitados. Os resgatados são encaminhados para um barco flutuante com piscina, a fim de protegê-los. “Se for de fato algum agente infeccioso, seria perigoso liberá-los pois contaminaria os animais que estão nos arredores, aumentando ainda mais o problema. Até agora não há registro de mortes nas cidades vizinhas.