O presidente da República em exercício, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliou nesta segunda-feira que o governo do presidente Michel Temer perdeu força junto ao Legislativo, e disse ter ouvido de cerca de 100 deputados que o peemedebista terá mais dificuldade para derrubar uma esperada segunda denúncia a ser apresentada pelo procurador-geral da República.
No mês passado, a Câmara dos Deputados, que é presidida por Maia, rejeitou a autorização para o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar a primeira acusação apresentada por Rodrigo Janot contra Temer por corrupção. Ele calculou que, se enviada, uma outra peça de Janot contra o presidente seria julgada até o fim deste mês.
“Não dá para negar que a relação de força do governo com o Congresso perdeu alguma força. É claro que esse tipo de ato, uma denúncia, ela gera desgaste, ela gera, vamos dizer assim, algum tipo de desarticulação”, disse Maia, durante participação em fórum promovido EXAME, publicação da Editora Abril, que também edita VEJA.
“A imprensa tem dito que há conflitos na base. Eu estou apenas reproduzindo o que vocês ouvem e o que eu ouço também. De fato, há um certo incômodo de parte da base e acho que o presidente Michel Temer tem todas as condições de reorganizar. De Congresso ele entende bem”, disse a jornalistas, após discursar.
O diagnóstico de Maia sobre fissuras na base aliada de Temer vem em um momento de tensões entre DEM e PMDB, que disputam a filiação de descontentes do PSB. O deputado disse que uma eventual reação a possíveis problemas nessa relação caberá aos dirigentes de seu partido, não a ele como presidente da Câmara. Maia ocupa interinamente a Presidência da República em razão da viagem de Temer à China.
Previdência
Admitindo que neste momento a Câmara não tem os 308 votos necessários para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição da reforma da Previdência, Maia disse acreditar que serão necessárias algumas concessões no texto aprovado em uma comissão especial para aprovar a medida. “Temos de trabalhar o convencimento dos parlamentares”, disse o presidente da Câmara, acrescentando que a reforma pode ser aprovada em outubro na Câmara.
Para Maia, não há outra alternativa ao país que não seja fazer a reforma previdenciária, por causa do tamanho do problema fiscal brasileiro. Ele também fez críticas à comunicação do governo Temer sobre a matéria, embora tenha reconhecido que ela vem melhorando. “O governo comunicou mal a reforma da Previdência desde o início”, afirmou.
Privatizações
Maia também fez uma firme defesa das privatizações, afirmando que é o setor privado que vai tirar o Brasil da crise, e disse que defende as privatizações não para resolver o problema do déficit fiscal, mas porque considera que as empresas são mais eficientes nas mãos do setor privado.
“Não adianta a gente achar que vai resolver o déficit do governo com privatização”, disse Maia, afirmando que a venda de ativos estatais ao setor privado deve ser feita pelos motivos corretos, não como solução para os problemas fiscais do país. O presidente em exercício fez ainda uma avaliação do quadro eleitoral para 2018, lembrando que o PSDB hoje está dividido e que essa divisão entre os tucanos gera oportunidade a outros partidos, como o DEM.
Ele voltou a afirmar que o prefeito de São Paulo, João Doria, é um quadro do PSDB, diante de especulações de que ele poderia migrar para o DEM para ser candidato ao Palácio do Planalto no ano que vem.
Reforma Política
Rodrigo Maia afirmou também que considera possível votar a reforma política a tempo de que as novas regras eleitorais sejam aplicadas na eleição do ano que vem. “Tendo acordo entre as lideranças, temos condições e maioria de aprovar rápido em dois turnos e encaminhar para o Senado”, disse o parlamentar, que defendeu a adoção do “distritão” como modelo de transição para o distrital misto.
Ele ressaltou, ainda, que há um “grupo importante de líderes” que prefere esgotar a discussão do sistema eleitoral antes mesmo de analisar outra reforma enviada pelo Senado, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que é relatada na Câmara pela deputada Shéridan Oliveira (PSDB-RR). “Se votarmos a PEC do Senado antes, corremos o risco de não ter nada”, afirmou.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)