De onde veio a ideia de tomar o chá do Santo Daime? Para eu poder falar qualquer coisa, tenho que presenciar, tenho que viver. Como governador, tenho andado por quase todas as aldeias. Além de dormir, participo de todos os rituais: já experimentei ayahuasca, rapé, veneno do sapo… Tem uma frase que eu sempre digo: entre o céu e a Terra tem muitas coisas que a ciência ainda não descobriu.
As pessoas costumam relatar que tiveram revelações ao tomar ayahuasca. O que o senhor sentiu? É uma experiência que traz uma energia muito positiva, que é única. Já bebi o chá umas quatro, cinco vezes. Fui, presenciei, vivenciei. Nenhuma experiência foi igual à outra. O resultado depende muito de como está a sua vida no momento. Só quem realmente foi sabe. Alguns acham que o chá vai mexer com o organismo, mas não tem nada a ver, muito pelo contrário. Quando você vai à aldeia para um festival dos povos originários, você toma a decisão de beber ou não o chá, é uma decisão espiritual e individual. Ninguém vai te obrigar a nada.
O senhor já enfrentou alguma resistência ou preconceito por ter bebido o chá e participado dos rituais? Eu parto do princípio de que, quando se tem qualquer ideologia e você é um homem público, como eu que sou governador, precisa do respeito dos que aprovam e dos que não aprovam. Eu não vejo preconceito. Sei que a procura é muito grande, não só do Santo Daime e da União do Vegetal, que são os núcleos mais famosos e que também fazem trabalhos sociais enormes. Os rituais atraem muita gente. O DJ Alok já veio aqui, assim como atores como Marcos Palmeira e Fabio Assunção. São pessoas que viveram essa experiência. Os festivais lotam. É impressionante.
Seu governo tem dado suporte a essas comunidades religiosas? O Estado está dando todo o apoio, com ajuda da iniciativa privada. Criamos o calendário estadual dos festivais indígenas aqui do estado. É um tipo de turismo que tem recebido muitas visitas, principalmente de estrangeiros, tanto europeus quanto americanos. É um visitante que chega aqui com um propósito diferente. A pessoa que procura essa experiência na floresta quer viver a realidade das aldeias. Você não vai encontrar ali um hotel cinco estrelas, mas há uma estrutura adequada para receber o turista que procura ver de perto tanto a Floresta Amazônica quanto participar desse rituais.
Publicado em VEJA de 1º de março de 2024, edição nº 2882