Em nenhum país do mundo, a revolução digital prometida pela quinta geração da telefonia celular é tão visível quanto na China. A potência asiática soma mais de 660 milhões de usuários conectados com esse tipo de tecnologia, o que representa mais da metade do total de 5G em todo o mundo.
Isso significa que as pessoas têm acesso a uma conexão bem mais rápida e também a inovações que ainda não se disseminaram mundo afora, mas que já estão sendo disponibilizadas do outro lado do planeta. Boa parte delas foi apresentada na MWC, a maior feira de telecomunicações da Ásia, que aconteceu em Xangai, na semana passada.
Entre as tendências que devem mudar o uso do celular para sempre estão óculos de realidade expandida, em que o usuário poderá enxergar uma tela, ao mesmo tempo em que vê a paisagem, para acessar suas redes com comandos de voz. Outra tendência são os cloud telephones, em que o armazenamento de dados se dá diretamente na nuvem, sem que os aparelhos precisem ser dotados de grande espaço de armazenamento.
Jogos online estão mais realistas e interativos, inclusive com o uso de óculos de realidade virtual, que, por causa da velocidade da conexão, minimizam as náuseas que afetam alguns jogadores. As ligações telefônicas passam a admitir a possibilidade de diálogos com assistentes virtuais comandados por inteligência artificial. Eles podem, por exemplo, tomar o pedido de uma refeição, enquanto exibem o cardápio na tela do celular.
A grande aposta da indústria, no entanto, se dá no mercado de vídeo, principalmente com tecnologia 3D, sem que nenhum par de óculos especial seja necessário para o usuário enxergar uma imagem em três dimensões. A maior velocidade e a capacidade de tráfego ampliada da rede permitem que transmissões ao vivo sejam feitas e passem uma impressão bem mais realista do ambiente para quem assiste.
“A maior inovação do 5G é a capacidade de fazer upload de vídeo, isso vai permitir uma interação muito maior entre as pessoas e transferir o uso desse tipo de conexão das ruas para dentro dos domicílios. É um novo capítulo que se inicia”, diz Michael Scanlan ex-vice-presidente e atual conselheiro da presidência da Huawei, multinacional chinesa que lidera a venda dos equipamentos da rede 5G no mundo.
Estimativas apresentadas na MWC dão conta de que a transformação digital foi responsável por uma injeção da ordem de 200 bilhões de dólares no PIB chinês, no ano passado. E isso é apenas o início. Cerca de 1,3 trilhão de dólares devem ser investidos na infraestrutura de redes nos próximos anos no país.
Boa parte dessa revolução deve acontecer na indústria com a modernização e a automoação das cadeias produtivas. No porto de Tianjin, cidade localizada no nordeste da China, um dos seis terminais é operado inteiramente por máquinas. O projeto, que começou a ser implantado a partir de 2019, tem caminhões e guindastes equipados com radares e câmeras e são comandados por inteligência artificial. Sozinhos, sem interferência humana, eles movimentam 2,5 milhões de contêineres que são desembarcados todos os anos nesta parte do maior porto artificial do mundo. Tudo é abastecido com energia limpa, 100% renovável, produzida por duas usinas eólicas instaladas nos arredores.
A 2 mil quilômetros dali, na cidade de Shenzhen, no sul do país, diversas soluções de 5G para a indústria estão sendo desenvolvidas na região, que se tornou conhecida como o Vale do Silício chinês. Em visita à sede da Huawei, a reportagem de VEJA pôde conhecer projetos para automação de minas de minério de ferro, aeroportos e cidades.