Antes mesmo da compra de 600 respiradores artificiais pelo Consórcio Nordeste ser cancelada pela empresa chinesa que produz o equipamento na sexta-feira (3), e ligar o alerta de que se iniciava uma “guerra” global por suprimentos médicos, o Ministério da Saúde já havia aberto um edital no dia 26, para compra de respiradores, pedindo por 15 000 aparelhos. No entanto, as companhias especializadas não demoraram em responder que não há estoque para atender à demanda imediatamente. Logo, coube a algumas empresas tentarem adaptar suas linhas de produção para fabricar opções de respiradores.
A companhia de energia WEG anunciou na segunda-feira (30), que vai usar a estrutura de suas fábricas em Santa Catarina para fazer 50 respiradores por dia. Também em comunicado pela manhã, a fabricante de aeronaves brasileira Embraer disse que dedicou uma grupo de trabalho para conseguir produzir peças para a indústria de respiradores. Como boa parte dos itens é importada, a fabricação de peças pela Embraer e sua cadeia de fornecedores poderia ser crucial neste momento.
Ainda assim, apesar das tentativas, a adaptação das fábricas para produzir os aparelhos, que são complexos e demandam alta especialização, deve levar ainda algumas semanas. Mesmo na WEG, onde uma parceria deve garantir que o modelo seja somente montado pela empresa, as entregas poderiam começar somente na segunda quinzena de maio.
Enquanto as linhas de montagens que foram adaptadas para fabricação de respiradores mecânicos não entregam as unidades, existem frentes que tentam concertar aparelhos estragados para mitigar os efeitos dos equipamentos que estão em falta. Um desses exemplos é a Universidade Universidade Federal de São Carlos, que entregou ao SAMU três respiradores de ar que foram recuperados depois de mutirão de manutenção. As reparações foram feitas nos laboratórios dos departamentos de engenharia mecânica e de engenharia elétrica da universidade, e agora devem ser emprestados à Santa Casa, onde serão utilizados durante a pandemia.
Outra iniciativa é a da criação de equipamentos de menor complexidade, como o feito pela equipe da Escola Politécnica da USP, que criou um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo que poderá atender a pacientes do coronavírus. O protótipo, chamado Inspire, pode ser montado em duas horas e não exige peças importadas. Anunciada a sua criação na semana do dia 27 de março, o respirador custa apenas mil reais, enquanto aqueles disponíveis atualmente custam, em média, quinze mil reais.
Nos próximos dias, também deve ser iniciada a produção de respiradores pelo Instituto Mauá de Tecnologia, em parceria com a Mercedes-Benz. Trata-se de uma adaptação do Ambu, ventilador mecânico comumente usado por médicos e socorristas. O funcionamento do novo respirador, que será produzido em São Bernardo, dependerá de um motor como aquele usado em limpadores de para-brisa.
A startup Pi Project Robótica e Automação, que trabalha com robótica educacional em Sorocaba, resolveu temporariamente mudar o foco de seus esforços para produzir respiradores mais baratos do que os atualmente vendidos no mercado. Os protótipos foram montados por uma equipe de nove pessoas e custou aproximadamente 1,1 mil reais. As unidades devem começar a ser distribuídas aos serviços de saúde nos próximos dias.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 65 000 respiradores, mais de 70% na rede pública. São três aparelhos para cada 10 000 habitantes. Cerca de 20% dos aparelhos já estão sendo usados para atender a outros casos de problemas respiratórios, e espera-se para as as próximas semanas os picos de uso dos equipamentos em pacientes internados. Quando se trata de salvar vidas, mudar uma linha de produção é o ato mais humano.