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Problemas do TikTok se repetem em outras plataformas, diz autor britânico

Jornalista Chris Stokel Walker assina biografia não autorizada do aplicativo chinês que tem ditado tendência no mundo virtual com vídeos musicais curtos

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 abr 2022, 07h11 - Publicado em 27 abr 2022, 07h00

Jornalista especializado em tecnologia com passagens por Wired e The Economist, o britânico Chris Stokel Walker é o autor do recém-lançado TikTok Boom (Intrínseca), uma espécie de biografia não-autorizada do viciante aplicativo chinês que tem ditado as recentes tendências das redes sociais. No livro, Walker desenha a ascensão meteórica da plataforma de vídeos musicais curtos desde a fundação pela empresa chinesa Bytedance, em 2016. E passa em revista seus maiores percalços, quando foi proibido na Índia e sofreu ataques diretos do ex-presidente americano Donald Trump. Reconhece que sua natureza aliciante pode ser um problema de saúde pública, mas não deixa de notar que sua origem e o fato de ser tão popular atraem críticas que podem ser estendidas a todas as outras redes sociais.

O TikTok é realmente o bicho-papão que o Ocidente está imaginando?

Esta é uma das grandes questões sobre o TikTok: que estamos diante de um complô chinês e que isso pode ser preocupante. É o que pensa uma porção significativa do público no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Índia. Imagino que, se essa investigação fosse repetida no Brasil, encontraríamos resultados semelhantes.

O que as suas pesquisas descobriram?

Na minha apuração, não encontrei a “arma do crime”, o telefone que liga o gabinete do (líder chinês) Xi Jinping ao escritório da Bytedance. Isso é um sintoma das crenças inconstantes que temos sobre as mídias sociais. O grande problema é que nós fornecemos muitos dados para estas plataformas, que monetizam isso e usam esses recursos para expandir seu negócio. O TikTok é apenas parte dessa equação, que são as redes sociais como um todo.

Por que acha que o TikTok faz tanto sucesso? Afinal, é apenas uma combinação de dança e música, pequenos esquetes sonoros. O que há de tão atraente nisso?

Acho que é a combinação de como apresenta vídeo e áudio, com um estilo de conteúdo interessante, de uma maneira que não vemos em outras plataformas. O YouTube é um formato de vídeo muito tradicional, leva muito tempo para produzir. O Tiktok consegue fazer as coisas um pouco diferente, o processo de criação é muito mais fácil. Não leva muito tempo para criar um viral de alta qualidade. Como os vídeos são mais curtos, é possível assistir a muito mais quantidade. E o algoritmo se baseia no gráfico de conteúdo, que são os assuntos que mais interessam para o usuário, e não no gráfico social, que é baseado no que as pessoas que você conhece estão assistindo.

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Há um estudo no Reino Unido mostrando que mídias sociais podem afetar o bem-estar de meninas e meninos em diferentes idades. O TikTok se encaixa nesse perfil?

Essa é uma questão interessante, algo que tentei explorar no meu livro anterior, sobre o YouTube. A verdade é que ainda não sabemos a extensão do impacto que as redes sociais têm na vida dos jovens. No início do século passado, não sabíamos que os cigarros eram prejudiciais – as pessoas pensavam neles como algo sofisticado. O tempo passou e ainda somos indulgentes com o vício.

Ainda somos indulgentes com as redes sociais?

Estamos mais conscientes agora do que acontece com essas mídias, seja o Tiktok, o Instagram, o Facebook, o Twitter ou o Snapchat. Gosto de dizer que sou um repórter de tecnologia cético em tudo o que faço. Certamente, há um risco de que algum mal esteja sendo feito. Mas toda nova tecnologia dá margem a exageros, como pensar que os telefones celulares vão dissolver nossos cérebros, algo que ainda não aconteceu. E há muitas coisas boas sobre as mídias sociais também.

O jornalista britânico Chris Stokel Walker
O jornalista britânico Chris Stokel Walker, autor de ‘TikTok Boom’, sobre a plataforma chinesa de vídeos musicais (Mike Sewell/Canbury Press/Divulgação)

O Brasil é o terceiro país do mundo fora da China onde o TikTok é mais popular. Os Estados Unidos e a Indonésia são o primeiro e o segundo, respectivamente. Como explica isso?

O Brasil é uma grande economia, há muitos usuários para conquistar. A Bytedance, empresa controladora do TikTok, tem uma cartilha para cada país onde entra. Na Índia, primeiro foram atrás dos usuários de classe baixa e, quando conseguiram conteúdo suficiente, mudaram de estratégia para ampliar a base. Somos todos usuários do dia a dia, não somos grandes celebridades. Acho que uma das coisas que torna o TikTok único é essa ideia de localizar o aplicativo. Ele sabe que você está no Brasil, e eu no Reino Unido. Aqui, fiz o perfil de um idoso que se tornou incrivelmente popular porque seus netos usavam. No Brasil, o livro traz o perfil de um personagem semelhante. Essa universalidade explica o porquê de a plataforma ser tão popular no país.

Uma das questões mais urgentes sobre o TikTok tem a ver com a segurança de dados.

Se tivesse sido lançado cinco anos antes, o TikTok provavelmente não seria tão bem-sucedido como hoje em dia. Uma das razões de seu sucesso é justamente a qualidade da tecnologia, das câmeras em nossos smartphones ao poder de processamento de nossos dispositivos, até as velocidades de internet mais altas, que permitem edições em tempo mais curto. Ao mesmo tempo, esses avanços trazem problemas e preocupações, como o compartilhamento de dados, que podem ser estendidos a todas as outras mídias e redes sociais. Mas acho que o TikTok é o que mais chama a atenção especificamente por causa do que faz. E isso gera muito mais escrutínio.

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E porque vem da China.

Estamos em uma batalha pelo futuro da tecnologia. Há muitos anos, estamos acostumados a usar aplicativos e serviços desenvolvidos nos Estados Unidos. E, fora do território americano, não temos ingerência sobre eles, nem conseguimos adaptá-los às nossas necessidades. Seguimos as normas americanas e a sociedade americana é, em geral, muito diferente de todas as outras sociedades do mundo. O que estamos vendo, pela primeira vez, são pessoas que nos últimos 20 ou 25 anos se acostumaram a determinar as regras.

O que isso significa?

De repente, elas precisam seguir regras, porque uma grande plataforma de mídia social, sediada fora de uma área muito pequena no Vale do Silício, na Califórnia, começa a se tornar global. A reação contra o TikTok talvez venha do fato de que não é uma empresa americana. E eles não necessariamente gostam da ideia de que precisam usar um aplicativo cujas normas e atitudes sociais são baseadas em outros lugares.

Qual o futuro desse tipo de plataforma ou mídia social?

O futuro da tecnologia está sendo moldado pelo TikTok. É visível o impacto em outras plataformas, como o YouTube, com o YouTube shorts, que é o serviço de vídeo de formato curto; o Instagram, com os Reels, que é um clone do TikTok, e assim por diante. O YouTube é o segundo mecanismo de busca mais usado, e seus vídeos são horizontais em uma proporção de 16 por 9. O TikTok é diferente: vertical, curto e imersivo. O sucesso do TikTok mostra que há oportunidades para ter grandes plataformas globais de mídia social que não são sediadas nos EUA. Espero que encoraje outras pessoas de outras partes do mundo a pensar: “Posso levar meu aplicativo para o resto do mundo?”. E se o fizerem, então, isso tornará o mundo muito mais interessante e muito mais diversificado.

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Capa do livro 'TikTok Boom', de Chris Stker Walker -
CAPA – ‘TikTok Boom’ (Intrínseca) , de Chris Stoker Walker, desenha a ascesão do aplicativo chinês, desde seu lançamento pela Bytedance, em 2016 – (Intrínseca/Divulgação)
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