Os populares SUVs, os utilitários esportivos, já ocupam a principal fatia do mercado brasileiro. Representam 48% das vendas de veículos deste ano, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Antes usados apenas em situações em que era preciso ter robustez, cativaram o público pela posição mais elevada na condução e pela sensação de segurança que transmitem. Não à toa, são os mais buscados pelos consumidores e estão no topo da lista de prioridades das montadoras. E, agora, vão ficar ainda maiores — eis aí a tonitruante novidade. A sul-coreana Hyundai anunciou a chegada do Palisade, SUV grande que vem ampliar um naco ainda tímido, mas em franca expansão, do mercado automotivo nacional: o dos modelos capazes de levar até oito ocupantes.
Por enquanto, o Palisade encontrará poucos concorrentes diretos, todos eles de luxo. É o caso do Land Rover Defender 130, versão topo de linha do tradicional modelo inglês. Há clientes que optam pela importação independente de grandalhões como o Cadillac Escalade, dispostos a pagar quase 2 milhões de reais pelo colosso sobre rodas. A também sul-coreana Kia tem o Carnival, modelo tradicional lançado originalmente em 1998. Embora seja oficialmente uma minivan, a nova geração tem óbvia inspiração visual nos SUVs. Na categoria logo abaixo, dos carros para sete pessoas, a briga é boa. Jeep Commander e Toyota SW4 brigam pelo topo, mas há outros rivais importantes, como Caoa Chery Tiggo 8 e Volkswagen Tiguan. O eventual sucesso do Palisade, no entanto, poderá ampliar o interesse de outras montadoras em trazer veículos para lá de crescidos.
O movimento de expansão é resultado, como sempre, da dinâmica do mercado americano, em que há um predomínio de grandalhões em todas as categorias. De modo natural, é comportamento que desembarcaria no Brasil. Por aqui, contudo, há diferenças fundamentais e elas não podem ser desdenhadas. Enquanto o público das caminhonetes gigantes está longe dos centros urbanos, espalhado pelo interior, onde as estradas são piores e há mais espaço para veículos largos, os consumidores dos grandes SUVs concentram-se nas cidades.
O principal apelo dos SUVs encorpados, além do óbvio espaço interno, é o pacote de tecnologias com que normalmente são equipados. “Famílias maiores usam no dia a dia, para levar as crianças à escola e ir ao mercado, mas eles viram o carro de viagem no fim de semana, com espaço para passageiros e suas bagagens”, diz Gustavo Gandini, diretor de operações da Kia, que importa entre cinquenta e setenta unidades do Carnival por mês, da Coreia ao Brasil. “Acreditamos que há uma tendência nesse mercado e temos certeza que o volume deve continuar crescendo”, afirma o executivo.
O espaço para esses veículos ampliados sempre existiu no mercado brasileiro, a rigor. A própria Carnival é exemplo de tradição, com clientela fixa, disposta a pagar mais para atualizar o modelo. “Mas não há espaço para todos. Simplesmente torná-los disponíveis não é sinônimo de sucesso”, diz o consultor Cassio Pagliarini, da Bright Consulting.
Um ponto nervoso, contudo, é preocupante: o enorme desafio para a mobilidade. Ocupam mais espaço nas vias, bem mais estreitas que nos Estados Unidos, produzem maior emissão de poluentes e são mais perigosos para pedestres, especialmente crianças, já que a visibilidade é menor — por isso dependem tanto de tecnologias de assistência ao motorista. Como a procura por esses veículos não dá sinais de que vá diminuir tão cedo, talvez seja vital buscar um equilíbrio entre as demandas dos ávidos compradores e um modelo de cidade que contemple esses maquinões de quatro rodas. É proposta que deveria ser posta à mesa nas eleições municipais.
Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2024, edição nº 2912