O tão esperado novo normal ganhou uma faceta mais estilosa. Como forma de oferecer proteção contra a Covid-19, algumas marcas de roupa lançaram nos últimos dias tecidos que, segundo garantem, são capazes de neutralizar o novo coronavírus. Por ser um dos países com maior incidência da doença, o Brasil tem recebido ampla oferta de peças supostamente imunes. Na maioria dos casos, o tecido é comprado da empresa suíça HeiQ, que alega que o material utilizado na confecção foi exaustivamente testado por cientistas. Entre as empresas brasileiras que fizeram negócio com a HeiQ está a multinacional Vicunha, que nos próximos dias apresentará ao mercado seus jeans antivirais e antibacterianos. “Nosso objetivo é atender aos anseios do novo consumidor em um mundo em transformação”, afirma German Alejandro, diretor de marketing e vendas da Vicunha. Outro caso é o da marca catarinense Malwee, que lançou há algumas semanas camisetas e máscaras também teoricamente à prova do coronavírus.
Desde que os primeiros casos surgiram na China, diversas empresas largaram em uma corrida para desenvolver produtos capazes de bloquear a ação do vírus. Criada em 2004 por estudantes de iniciação científica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a Nanox especializou-se em nanotecnologia e usou sua experiência na área para criar um tecido feito a partir de micropartículas de prata. Segundo a empresa, isso é suficiente para eliminar, em três minutos, quase 100% do vírus da Covid-19 que entrar em contato com a roupa. Uma das maiores indústrias químicas do mundo, a Rhodia desenvolveu no Brasil um fio de poliamida que, conforme assegura a companhia, possui propriedades antivirais e antibacterianas. A substância pode ser aplicada em vestimentas e bancos de veículos, na forma de capas protetoras. A Rhodia diz que a tecnologia é também uma forma de tornar o transporte público mais seguro, pelo menos enquanto não sair uma vacina. Fabricado no Brasil, o tecido já está sendo exportado para a Itália, além de ser vendido para algumas marcas nacionais. Entre os clientes da Rhodia está a Lupo, gigante nacional de moda íntima que produziu 2 milhões de máscaras feitas com o fio de poliamida.
Não foram apenas os fabricantes de jeans e camisetas convencionais — os chamados modelos básicos — que aderiram ao movimento. A marca brasileira fashion J.Boggo+ lançou uma coleção inteira de vestidos, túnicas, calças e blusas feita com tecidos antivirais. Nos Estados Unidos, a grife Vollebak confeccionou jaquetas revestidas com um tipo de cobre que, de acordo com pesquisas feitas pela empresa, mata vírus e bactérias. Grandes varejistas brasileiras como Riachuelo e Renner estão atentas a esse novo mercado e não descartam investir em linhas próprias de peças que seriam capazes de aniquilar a Covid-19 e outros vírus, embora não forneçam informações sobre o tema. Segundo especialistas, a tendência veio para ficar e a busca por inovações nessa área deverá ser uma obsessão das empresas a partir de agora.
Diante da tecnologia necessária para a produção dessas peças, é de imaginar que o preço das roupas seja salgado. Não é o caso. As camisetas vendidas pela Malwee custam 49,90 reais, o mesmo de um modelo convencional. Há uma explicação para isso. Os baixos valores se devem ao desgaste rápido das roupas. Em todas as peças antivirais, os componentes químicos presentes nas vestimentas, responsáveis por torná-las aparentemente imunes ao coronavírus, são enfraquecidos cada vez que a peça vai para a lavadora. Na maioria dos casos, a propriedade antiviral das roupas só é garantida até a trigésima lavagem, o que reduz bastante a vida útil das peças. Outro aspecto que merece atenção especial dos consumidores diz respeito à serventia das roupas no combate a doenças. Elas entregam o que prometem? “Tecidos antivirais são, sim, eficazes”, afirma João Prats, infectologista do Hospital Beneficência Portuguesa. “No entanto, não sabemos se esses modelos são realmente úteis no caso do coronavírus. De forma geral, a Covid-19 dura pouco tempo em tecidos e é raro que roupas sejam grandes fontes de contaminação.” Os consumidores parecem confiar nas alegações das empresas. Apenas 72 horas após o lançamento da linha antiviral, todas as 40 000 máscaras da Malwee desapareceram dos estoques. Pelos visto, não vai demorar muito para as peças antivirais entrarem definitivamente na moda.
ASSINE VEJA
Clique e AssinePublicado em VEJA de 22 de julho de 2020, edição nº 2696