Nada menos que 27 000 brasileiros concorrem a um cargo público nas eleições do próximo dia 7. Para a Câmara dos Deputados, serão cerca de 8 000 nomes a disputar as 513 cadeiras. Quem já assistiu à propaganda eleitoral em rádio e TV sabe que os candidatos dispõem de apenas alguns segundos para falar o nome, o número e defender suas propostas. Ou seja: é muita gente e pouquíssimo tempo para conhecer melhor quem quer se eleger. Mas o avanço do mundo digital tornou essa tarefa mais fácil. Existem hoje dezenas de sites e aplicativos cuja missão é ajudar os eleitores a fazer uma escolha mais consciente. São as political techs, como se denominam as startups que usam a tecnologia para auxiliar o processo eleitoral.
Foi justamente a dificuldade de encontrar informações que estavam espalhadas pela internet, em diferentes sites do poder público, que levou os empreendedores Renato Feder e Alexandre Ostrowiecki a decidir criar o Ranking dos Políticos, uma das political techs pioneiras no país. O site, que conta com 15 milhões de acessos mensais, reúne os dados de parlamentares e fornece estruturas de comparação em forma de lista. É possível checar o histórico criminal, a votação em projetos mais relevantes no Congresso, os gastos e as faltas nas sessões durante o mandato. Além disso, o eleitor pode responder a enquetes e descobrir quais candidatos mais se alinham com o seu ponto de vista. Esse mecanismo também está disponível nos sites #TemMeuVoto, #MeRepresenta e Bússola Eleitoral.
Alguns aplicativos fazem uso de tecnologias avançadas, como o reconhecimento facial. É o caso do Detector de Ficha de Políticos. Basta uma foto para que, em poucos segundos, ele revele ao eleitor a lista de processos a que o candidato em questão responde na Justiça. O aplicativo já soma 1,5 milhão de downloads e disponibiliza a ficha de 8 500 políticos, entre parlamentares eleitos em 2014, postulantes ao Congresso, aos governos estaduais e à Presidência.
Há dois anos, as political techs tiveram papel de destaque nas eleições que conduziram Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. Elas atuaram no combate às fake news, mas, como se sabe, não conseguiram impedir a influência da desinformação no resultado final. No Brasil, alguns mecanismos de acompanhamento de candidatos e da execução de suas promessas já estavam disponíveis nas eleições de 2014. Mas o uso dessas ferramentas aumentou de forma ostensiva desde então. Existem hoje 37 sites e aplicativos, segundo um estudo da aceleradora de startups Liga Ventures. Apesar desse crescimento em prol da democracia, ainda há muito trabalho a ser feito: oito em cada dez brasileiros não lembram em quem votaram para deputado federal em 2014, e só 15% acompanham os parlamentares que ajudaram a eleger. Se essas novas ferramentas contribuírem para mudar tal quadro, terão cumprido à risca sua missão democrática.
Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2018, edição nº 2602