Em meados de maio, a Anthropic anunciou Mike Krieger, de 38 anos, cofundador e ex-diretor de Tecnologia (CTO) do Instagram, como seu novo diretor de produtos (CPO). Nascido no Brasil e formado em Ciências da Computação pela Universidade de Stanford, Krieger desempenhou um papel fundamental na expansão do Instagram de uma pequena startup para uma plataforma de bilhões de usuários. Ele agora supervisiona o desenvolvimento de produtos da empresa, à medida que avança na expansão de seus aplicativos empresariais e amplia o acesso ao seu assistente de inteligência artificial, Claude. Esta semana, a ferramenta foi lançada no Brasil. A seguir, o executivo fala, entre outras coisa, sobre sua perspectiva de negócios para o país.
Como a Anthropic vê o Brasil como mercado de inteligência artificial? Qual a importância de lançar o Claude no país neste momento? Em primeiro lugar, o Brasil é meu país natal. Então, tem essa conexão. Depois, desde que eu anunciei minha ida para a Anthropic, os meus seguidores brasileiros da época em que estava no Instagram me perguntavam quando a gente lançaria o Claude em português. Em termos estratégicos, o Brasil e os brasileiros quase sempre são os primeiros a adotar tecnologias novas ou a encontrar uma forma diferenciada de usá-la — via muito isso quando estava no Insta. Por último, tem o fato de que apostamos em dois modelos de negócios, vendemos diretamente para usuários, mas também tem o API, que serve as empresas. Acho que tem muito interesse nas empresas brasileiras em como o AI vai transformar sua própria indústria.
O investimento da empresa na ferramenta de negócios parece ser estratégico, não? Há duas grandes categorias, que são aplicações internas e externas. Internamente, essas aplicações, como o Claude for Teams, podem ajudar as empresas a reunir e organizar sua documentação, a melhorar processos e otimizar a produção. Então, tem esse lado de processamento de dados, tem o lado de códigos de programação, a gente vê muitas pessoas acelerando a sua própria empresa. No lado externo, muitas empresas têm usado isso para melhorar o seu apoio técnico, como por exemplo ajudar na jornada do usuário. A pessoa chega no site e quer saber detalhes sobre o produto que não estão expostas e conversa com a inteligência artificial para saber mais. Nos Estados Unidos, a Amazon usa esse recurso — acho que já tem no Brasil, também.
E para o público mais amplo? A parte mais essencial ou básica é realmente aquela conversa que você pode ter com o modelo. Mas o que nos diferencia do lado do público normal são três coisas. Uma é o tom e a personalidade do Claude, uma coisa que a gente investe muito tempo aprimorando, tem até uma equipe dentro da empresa dedicada 100% a isso e é uma coisa que nos diferencia. Temos um recurso chamado Artifacts, focado em cocriação de documentos ou de até sites. E tem a parte de projetos, para administrar pequenos negócios e finanças pessoais.
Como enxerga a competição no campo da inteligência artificial? Os avanços na área de tecnologia, de inteligência artificial, de grandes modelos de linguagem vão continuar. A Anthropic provavelmente vai se desenvolver aos poucos — em inglês usamos o termo leapfrog, literalmente saltos de rã. Mas ao ficar dependente só da corrida ao topo, perde muito a parte humana, a parte que ia ser útil no final. Por isso, temos uma equipe de pesquisa que sempre vai continuar aprimorando o modelo. Em paralelo, para a gente continuar sendo relevante no longo prazo, vamos criar produtos em torno dos modelos que realmente abrem portas para algo totalmente novo para o usuário. Seja para criar documentos, seja para raciocinar de uma forma mais avançada, seja para criar um código…
E os outros concorrentes, como Google, ChatGPT, OpenAI e por diante? A gente tem uma visão bem no longo prazo. Então, para mantermos essa relevância, e a nossa equipe não é grande, comparado a uma Google, precisamos focar muito nessa questão de utilidade. Também no Instagram a equipe não era das maiores, mas acho que fizemos as apostas corretas em termos de onde investimos também. A longo prazo, poucas empresas vão manter treinamentos de modelos ainda maiores. Provavelmente, a gente, a OpenAI, a Google, a Meta, talvez, também. Mas muitos além desses, provavelmente, não. O que vai diferenciar entre esses quatro acho que vai ser como eles focam nos produtos.