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Usaram o câncer para ganhar seguidores, diz mãe de Nara Almeida

Eva Almeida diz que falsos amigos em busca de fama tiraram proveito da morte de sua filha

Por Eva Almeida
Atualizado em 4 jun 2024, 15h21 - Publicado em 19 jul 2019, 06h30
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  • Eva Almeida
    Eva Almeida: ‘Eu via gente ir ao hospital com o único objetivo de postar uma foto ao lado da minha filha, só para ganhar seguidores’ (Jefferson Coppola/VEJA)

    Minha filha Nara Almeida chamou a atenção do país ao expor um câncer raro no estômago com apenas 24 anos de idade, quando sua carreira de modelo decolava. Ao relatar sua batalha pela vida, ela passou de 400 000 seguidores no Instagram, em 2017, para 5 milhões, pouco antes de morrer, em maio de 2018. O que veio depois de sua partida foi uma sucessão de dores. Não respeitaram meu luto. Fui massacrada, julgada e condenada pelo tribunal das redes sociais. As pessoas escreviam para mim dizendo que o câncer de Nara tinha nome: Eva. Mandavam que eu voltasse para o “buraco” onde nasci. Eu não conseguia abrir o celular, com medo dos ataques. A dor da morte, já forte, era ampliada. Será que ninguém tenta ver o outro lado, ter compaixão do próximo?

    Sou do interior do Maranhão. Quando Nara tinha 1 ano, eu me mudei para Roraima e a deixei com minha mãe. Ninguém faz isso se não é um caso extremo. Eu era muito pobre, minha filha brincava no chão de terra batida de casa enquanto eu fazia faxina. Não bastasse isso, tive um problema de saúde no fígado e precisei me tratar. De toda forma, Nara e eu sempre nos falamos, apesar da distância. O contato por telefone era diário. Quando ela descobriu o câncer, abandonei minha vida em Boa Vista para vir cuidar dela em São Paulo. Deixei emprego, marido e outros filhos para trás. Deus havia me dado uma segunda chance para ser mãe de Nara. No hospital, quando minha filha pesava menos de 40 quilos e a morfina não erradicava a dor, ela pedia que me ajoelhasse e fizesse uma oração para que o Senhor amenizasse seu sofrimento. Houve uma vez em que a dor passou, e ela saiu comemorando pelos corredores. Nara me disse: “Olhe o poder de uma mãe”. Minha filha me perdoou por eu não ter podido criá-la. Fiz de tudo para que tivesse uma partida tranquila. Meu coração está limpo.

    Também pude ver de perto como as pessoas são oportunistas. Como a doença de Nara chamava atenção, ela recebia telefonemas de apoio de celebridades como Adriane Galisteu, Tata Werneck e Alexandre Pato. A curiosidade das pessoas aumentou. Na UTI, Nara acompanhava milhões de seguidores que torciam por ela. Essa foi a parte legal, de sentir o carinho e a oração de todos. Mas alguns supostos amigos de Nara aproveitaram-se da situação de vida ou morte. Eu via gente ir ao hospital com o único objetivo de postar uma foto ao lado da minha filha, só para ganhar seguidores. Como Nara ficou muito tempo sem postar, qualquer imagem dela rendia milhares de curtidas. Os tais amigos não se importavam com o fato de que ela tinha cateter, de que estava magra, sentindo-se péssima. Queriam uma lasca de fama no Instagram.

    Os amigos dela, depois da morte, não me procuraram. Afinal, o que posso oferecer? O então namorado de Nara, Pedro Rocha, nunca mais falou comigo. Depositou 23 000 reais em meu nome, dizendo que esse era o valor que Nara tinha na conta dela. Ele era engenheiro, e hoje vive como digital influencer. Tenho carinho por tudo o que Pedro fez por ela, mas fiquei sentida por ele nunca ter me ligado. Depois da morte de Nara, abri um boxe de roupas no Brás, bairro popular de São Paulo, mas não consegui mantê-lo. Saí procurando emprego na rua. Pensei em fazer marmitas para vender para fora, mas a dona de um salão me deu emprego, embora eu não tivesse nem um pente. Comecei a trabalhar como cabeleireira e designer de sobrancelhas. Há dois meses, vendi um iPhone que Nara me deu para poder pagar o aluguel do apartamento onde vivo com a minha família, que trouxe de Boa Vista. Aqueles amigos que usaram o câncer da minha filha para ganhar seguidores nunca me ligaram para saber se eu precisava de algo. E nem falo de dinheiro: quando estamos aflitos, um ombro ajuda demais.

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    Depoimento dado a João Batista Jr.

    Publicado em VEJA de 24 de julho de 2019, edição nº 2644

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