Em um campo onde raramente há sucesso, um medicamento experimental para a doença de Alzheimer retardou o declínio cognitivo e funcional em um grande teste com pacientes nos estágios iniciais da doença, anunciaram as farmacêuticas Eisai Co Ltd e Biogen nesta terça-feira, 27.
Até agora, vários fabricantes de medicamentos tentaram e falharam em encontrar um tratamento eficaz para a doença que afeta cerca de 55 milhões de pessoas em todo o mundo – e que pode chegar a 74,7 milhões em 2030 – , de acordo com a Alzheimer’s Disease International. No Brasil, cerca de 1,2 milhão pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano
A droga lecanemab retardou o progresso da doença em 27% em comparação com um placebo. Os resultados do teste de 1.800 pacientes provam a velha teoria de que a remoção de depósitos pegajosos de uma proteína chamada beta-amiloide do cérebro de pessoas com Alzheimer precoce pode retardar o avanço da doença debilitante.
Eisai agora busca “aprovação acelerada” da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, com decisão prevista para o início de janeiro. O objetivo é a aprovação e comercialização total do medicamento nos Estados Unidos, Europa e Japão até o final de 2023, disse o CEO Haruo Naito a repórteres em Tóquio.
Muito cedo
Lecanemab é um anticorpo intravenoso projetado para remover depósitos de beta-amiloide que ainda não se aglutinaram.
A chamada hipótese amilóide foi contestada por alguns cientistas, particularmente após a controversa aprovação do medicamento Aduhelm, da Biogen, pela FDA em 2021 com base em sua capacidade de remoção de placas, ao invés de mostrar qualquer retardamento do declínio cognitivo. A decisão foi contra até o painel de especialistas externos da agência, que desaconselhou a aprovação.
Embora os resultados de primeira linha do lecanemab sejam convincentes, ainda é “muito cedo” para determinar se os efeitos são clinicamente significativos, disse Kristian Steen Frederiksen, diretor de uma unidade de ensaios clínicos da Universidade de Copenhague.
A doença de Alzheimer “é uma doença extremamente complexa e é improvável que a patologia relacionada à amiloide seja o único jogador”, disse ele. “Portanto, atingir um único alvo provavelmente não produzirá grandes tamanhos de efeito”.