A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou na segunda-feira (13) um relatório com os principais desafios de saúde pública da próxima década. De acordo com a entidade, a lista com treze itens “reflete uma profunda preocupação de que os líderes não estão investindo recursos suficientes nas principais prioridades e sistemas de saúde. Isso coloca vidas, meios de subsistência e economias em risco. Nenhuma dessas questões é simples de resolver, mas estão ao seu alcance.”
Alguns destaques incluem o combate às emissões de gases do efeito estufa, responsáveis pela morte anual de mais de sete milhões de pessoas; a ampliação do acesso à saúde básica, a preparação de nações contra epidemias, maior investimento em prevenção e cuidados com a saúde dos adolescentes. Veja abaixo a lista completa e o por que essas questões são importantes.
1. Trazer a saúde para dentro do debate climático
De acordo com a OMS, a crise climática é também uma crise de saúde. A poluição do ar mata cerca de 7 milhões de pessoas todos os anos. Os eventos climáticos extremos, causados pelas mudanças, agravam problemas como desnutrição e disseminação de doenças infecciosas, como a malária. Melhorar a qualidade do ar nas cidades é uma forma de prevenir ou reduzir os riscos à saúde da poluição do ar.
2. Aumentar a atuação em áreas de conflito e crise
A maioria dos surtos de doenças que exigem o nível mais alto de resposta da OMS ocorreu em países com conflitos prolongados. Ao mesmo tempo, o conflito está forçando um número recorde de pessoas a sair de suas próprias casas, deixando dezenas de milhões de pessoas por anos com pouco acesso aos cuidados de saúde.
A OMS está trabalhando com países e parceiros para fortalecer os sistemas de saúde, melhorar a preparação e expandir a disponibilidade de financiamento de contingência a longo prazo para emergências complexas da saúde. Entretanto, a saúde é apenas parte do problema. São necessárias soluções políticas para resolver os conflitos e parar de negligenciar os sistemas de saúde.
3. Tornar o acesso à saúde mais justo
Lacunas socioeconômicas persistentes e crescentes resultam em grandes discrepâncias na qualidade da saúde das pessoas. Não há apenas uma diferença de 18 anos na expectativa de vida entre países ricos e pobres, mas também uma lacuna acentuada dentro dos países e até dentro das cidades.
O aumento global de doenças não transmissíveis, como câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes, tem uma carga desproporcionalmente grande nos países de baixa e média renda e pode rapidamente drenar os recursos das famílias mais pobres. Uma das melhores maneiras de reduzir essa realidade é da melhoria da atenção primária à saúde. Para isso, a OMS pede que todos os países aloquem 1% a mais de seu produto interno bruto (PIB) na atenção primária à saúde.
4. Aumentar o acesso a medicamentos
Um terço da população mundial não tem acesso a medicamentos, vacinas, ferramentas de diagnóstico e outros produtos essenciais para a saúde. Isso pode colocar em risco os pacientes e alimentar a resistência aos medicamentos.
As ações da OMS para este ano incluem combater produtos médicos abaixo do padrão e falsificados; melhorar a capacidade dos países de baixa renda de garantir a qualidade dos produtos médicos em toda a cadeia de suprimentos; e melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento de doenças não transmissíveis, incluindo diabetes.
5. Acabar com doenças infecciosas
Doenças como HIV, tuberculose, hepatite viral, malária, doenças tropicais negligenciadas e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) matarão cerca de 4 milhões de pessoas em 2020, a maioria de baixa renda, de acordo com a OMS. Nos últimos anos, doenças evitáveis por vacinas, como o sarampo, se espalharam pelo mundo – inclusive em países desenvolvidos – e causaram 140.000 mortes apenas em 2019, muitas delas crianças.
Para reverter esse cenário, a organização pede aumento de financiamento para serviços essenciais de saúde, fortalecimento da imunização de rotina, mais esforços para mitigar os efeitos da resistência aos medicamentos e investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos diagnósticos, medicamentos e vacinas.
6. Se preparar para epidemias:
Todos os anos, o mundo gasta muito mais em resposta a surtos de doenças, desastres naturais e outras emergências de saúde do que se preparando e prevenindo-os. Uma pandemia de um novo vírus altamente infeccioso no ar – provavelmente uma cepa de influenza – à qual muitas pessoas não têm imunidade é inevitável.
E essa realidade pode não estar muito distante. Recentemente, um novo vírus que causa uma doença pulmonar misteriosa gerou temor na China. A OMS confirmou que o surto na China foi causado por uma nova cepa de coronavírus, uma família ampla que varia do resfriado comum a doenças mais graves como a SARS. Até o momento, uma pessoa morreu e, recentemente, o primeiro caso da doença foi diagnosticado fora do país. O caso ocorreu na Tailândia, em um paciente que veio da China e indica a possibilidade de dispersão do vírus.
Enquanto isso, doenças transmitidas por vetores como dengue, malária, zika, chikungunya e febre amarela estão se espalhando à medida que as populações de mosquitos se deslocam para novas áreas, afetadas pelas mudanças climáticas. A OMS está assessorando os países para fortalecer os sistemas e a infraestrutura de saúde, a fim de manter as populações seguras quando ocorrerem emergências de saúde.
7. Aumentar a proteção contra o uso de produtos perigosos
Falta de comida, alimentos inseguros e dietas não saudáveis são responsáveis por quase um terço da carga global de doenças atualmente. Após uma queda, o uso de tabaco está aumentando na maioria dos países, em grande parte devido ao uso de cigarros eletrônicos. Diariamente surgem novas evidências sobre os riscos à saúde desses dispositivos, antes considerados seguros – ou, ao menos, mais seguros que o cigarro comum.
A OMS está trabalhando para desenvolver políticas públicas baseadas em evidências, remodelar os sistemas alimentares e fornecer dietas saudáveis e sustentáveis. Um grande passo foi a aprovação da eliminação de gordurar trans, mas é necessário mais. A organização também pede o fortalecimento e implementação de políticas de controle do tabaco.
8. Mais investimento para profissionais da saúde
O subinvestimento crônico na educação e emprego dos profissionais de saúde, associado a uma falha em garantir salários decentes, levou à escassez desses profissionais em todo o mundo. Isso compromete os serviços de saúde e a assistência social. A OMS estima que até 2030, o mundo precisará de 18 milhões de trabalhadores da saúde adicionais, principalmente em países de média e baixa renda. É preciso estimular novos investimentos para treinar profissionais de saúde e pagar salários decentes.
9. Aumentar a segurança de saúde dos adolescentes
Mais de um milhão de adolescentes de 10 a 19 anos morrem a cada ano. As principais causas de morte nessa faixa etária são acidentes de trânsito, HIV, suicídio, infecções respiratórias e violência. O uso nocivo de álcool, tabaco e drogas, a falta de atividade física, o sexo desprotegido e a exposição a maus-tratos infantis aumentam os riscos dessas causas de morte.
Este ano, a OMS emitirá novas orientações para ajudar a promover a saúde mental dos adolescentes e impedir o uso de drogas, álcool, auto-agressão e violência interpessoal, além de fornecer aos jovens informações sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, contracepção e cuidados durante a gravidez e o parto.
10. Ganhar a confiança da opinião pública
A confiança é essencial para a população acreditar no serviço de saúde e seguir os conselhos dos profissionais sobre vacinas, tratamentos e formas de prevenção. Porém, a saúde pública é comprometida pela disseminação descontrolada de informações erradas nas mídias sociais, bem como por uma erosão da confiança nas instituições públicas. O movimento anti-vacinação é um exemplo claro desse problema e tem sido um fator significativo no aumento de mortes por doenças evitáveis.
A OMS está trabalhando com os países para fortalecer a atenção primária à saúde, de modo a fortalecer a relação de confiança entre paciente e profissional de saúde. Está realizando ações com o Facebook, Pinterest e outras plataformas de mídia social para garantir que seus usuários recebam informações confiáveis sobre assuntos de saúde. A organização também pede o investimento em melhores sistemas de informação de dados de saúde pública para combater as fake news.
11. Dominar novas tecnologias para a saúde
Novas tecnologias estão revolucionando nossa capacidade de prevenir, diagnosticar e tratar muitas doenças. A edição de genoma, biologia sintética e tecnologias digitais de saúde, como inteligência artificial, podem resolver muitos problemas, mas também levantam novas questões e desafios sobre monitoramento e regulamentação.
Para evitar que essas novas tecnologias prejudiquem, de alguma forma, as pessoas às quais pretendem ajudar, é preciso revisar as evidências e orientações sobre questões mais polêmicas, como edição do genoma humano e saúde digital e solicitar que os países regulamentem o desenvolvimento e uso dessas novas tecnologias.
12. Evitar o uso indiscriminado de antibióticos
A resistência antimicrobiana ameaça enviar a medicina moderna de volta à era pré-antibiótica, quando cirurgias de rotina eram perigosas. As razões para o aumento desse problema incluem prescrição e uso não regulamentados de antibióticos, falta de acesso a medicamentos de qualidade e água potável, saneamento, higiene e prevenção e controle de infecções.
Para acabar com esse problema, os países precisam trabalhar nos fatores que lhes competem, como garantir o uso correto de antibióticos e melhorar o saneamento básico e acesso da população à água potável. Também é necessário investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos.
13. Aumentar o saneamento básico
Os serviços de água, saneamento e higiene são essenciais para o funcionamento de um sistema de saúde. Entretanto, uma em cada quatro unidades de saúde em todo o mundo carece de serviços básicos de água. A falta desses itens leva a cuidados de baixa qualidade e maior risco de infecções.
O objetivo global é que todas as unidades de saúde no mundo tenham esses serviços básicos implementados e em funcionamento até 2030.