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Pesquisa revela por que a leishmaniose é difícil de regredir

Novo estudo aponta que o parasita que causa a doença manipula o sistema de defesa do organismo para continuar se replicando

Por André Julião | Agência FAPESP
Atualizado em 4 jun 2024, 10h55 - Publicado em 18 abr 2023, 10h50
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  • Leishmaniose visceral / mosquito palha
    Leishmaniose visceral / mosquito palha (Latinstock/VEJA/VEJA)

    Em estudo publicado na revista Nature Communications, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostraram como protozoários do gênero Leishmania, causadores da leishmaniose, manipulam uma proteína essencial na defesa do organismo e continuam se replicando, fazendo com que a infecção não seja debelada.

    Os resultados trazem esperança para o desenvolvimento de novos tratamentos para a doença, que tem cerca de 30 mil novos casos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), grande parte no Brasil, e para a qual não há medicamentos específicos.

    A proteína em questão é a gasdermina-D, produzida por células do sistema imune inato dos humanos (o primeiro a entrar em ação quando um patógeno é detectado), incluindo os macrófagos. Ela promove a indução de um processo inflamatório fundamental para a defesa do organismo contra agentes infecciosos, como bactérias e parasitas.

    “A gasdermina-D é importante na ativação do inflamassoma, complexo de proteínas envolvido no combate a infecções. Observamos o inflamassoma ativado em biópsias de pacientes com a forma tegumentar [cutânea e mucocutânea] da leishmaniose”, explica Keyla de Sá, primeira autora do estudo, realizado durante seu doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) com bolsa da FAPESP.

    A pesquisadora, que atualmente realiza pós-doutorado na Yale University, nos Estados Unidos, explica que, nos experimentos com macrófagos e com camundongos infectados pela Leishmania, a gasdermina-D teve uma ativação fraca, que pode não ser suficiente para promover a morte celular necessária para combater o parasita, permitindo que a inflamação siga ativa.

    O processo inflamatório é responsável pelo aspecto das lesões causadas pela doença, que gera cicatrizes e deformações ou mesmo incapacidade física, dependendo da parte do corpo afetada.

    Os experimentos mostraram que o parasita realiza por conta própria uma clivagem alternativa da gasdermina-D (a molécula ganha uma forma estrutural diferente), um processo que inativa a proteína e impede que ela exerça suas funções inflamatórias. Em outras infecções, esse processo conhecido como clivagem da gasdermina-D é feito por proteínas do macrófago, causando a sua morte celular e impedindo que os agentes infeciosos sigam se replicando dentro dele.

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    “É muito interessante como esses parasitas modulam as funções dos macrófagos, que são células especializadas em matar micróbios. Esse processo permite que a Leishmania se mantenha nos hospedeiros mamíferos por anos, algumas vezes por toda a vida do indivíduo infectado”, destaca Dario Zamboni, coordenador do estudo, professor da FMRP-USP e pesquisador associado ao Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

    O trabalho teve ainda apoio da Fundação por meio de projeto coordenado pelo pesquisador e do Centro Reino Unido-Brasil para o Estudo da Leishmaniose (JCPiL).

    Inflamassoma

    Os inflamassomas desencadeiam a inflamação e o consequente combate a agentes infecciosos. No trabalho publicado agora, o grupo de Ribeirão Preto analisou o papel do inflamassoma mediado pela proteína NLRP3, um dos mais comuns e bem estudados.

    Em outros trabalhos, os pesquisadores haviam mostrado a atuação desse complexo de proteínas nos casos graves de COVID-19, quando ele fica superativado e gera a chamada tempestade de citocinas, que pode levar à morte.

    Na ocasião, os pesquisadores testaram com sucesso em animais e células humanas um medicamento que inibe a ação do inflamassoma, podendo futuramente ser administrado em pacientes com COVID-19 grave (leia mais em: agencia.fapesp.br/34680/ e agencia.fapesp.br/39592/).

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    “Agora temos dados que podem permitir, no futuro, testar a mesma droga ou alguma outra nos casos mais severos de leishmaniose tegumentar, quando a inflamação é muito exacerbada. No entanto, é preciso cautela, pois nos casos menos graves da doença o processo inflamatório induzido pelo inflamassoma pode ser importante para o controle da doença”, explica Zamboni.

    Os testes foram feitos com quatro das espécies mais comuns do protozoário que causam a leishmaniose tegumentar, Leishmania amazonensis, L. mexicana, L. major e L. braziliensis.

    A leishmaniose, que além da apresentação tegumentar tem ainda a visceral, que ataca os órgãos internos, é uma das 20 doenças tropicais negligenciadas. Esse conjunto de moléstias ocorre sobretudo em países tropicais e acomete pessoas pobres.

    Em 2021, a OMS lançou um plano para a erradicação de algumas delas e a redução drástica de casos de outras até 2030. As ações incluem a criação de novos medicamentos, uma vez que os atuais, quando existem, são normalmente tóxicos e causam efeitos colaterais, o que leva à descontinuação do tratamento.

     

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