Há 10 anos, depois de sair de um bar com seus companheiros de time, em Carmarthenshire, no País de Gales, Paul Pugh foi atacado por quatro homens desconhecidos. Recebeu socos e chutes repetidas vezes na cabeça. O britânico sofreu traumatismo craniano, o que o fez ficar em coma por mais de dois meses. Um coágulo de mais de 10 centímetros se formou em seu cérebro, trazendo efeitos que podem durar por toda sua vida, como a fadiga crônica, a dificuldade de fala e de mobilidade.
No entanto, meses após o ocorrido, Paul apresentou mais uma grave sequela: a risada patológica, também conhecida como afeto pseudobulbar ou labilidade emocional. O problema consiste na dificuldade de controlar as expressões emocionais. O indivíduo tem acessos de riso ou choro de forma involuntária, o que muitas vezes causa desconforto sociais.
Ataque de riso
Em uma reunião com sua família e os médicos que cuidavam do caso, Paul teve seu primeiro ataque de riso. “Quando eles começaram a falar sobre mim, fiquei assustado e isso desencadeou algo no meu cérebro: eu ri durante toda a reunião”, disse ele, que hoje tem 37 anos e vive com a mãe, à BCC News. “Na verdade, eu estava chorando copiosamente, mas externamente saiu como riso.”
O transtorno pode surgir como um sintoma de acidente vascular cerebral, traumatismo craniano, tumor no cérebro, esclerose lateral amiotrófica, esclerose múltipla e outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. A doença afeta o sistema nervoso e ocorre quando há uma lesão no lobo frontal, no cerebelo ou no tronco cerebral, que controlam a forma como administramos as emoções.
Eu sei quando estou rindo ou chorando, mas outras pessoas não
Paul Pugh
Descontrole
“A expressão descontrolada da emoção pode ser desproporcional ou inapropriada ao contexto social, e pode ser inconsistente com o que a pessoa realmente está sentindo”, explicou Andy Tyerman, neuropsicólogo da Headway, instituição voltada para reabilitação após lesões cerebrais, no Reino Unido, à BBC.
“Alguns ficam aborrecidos e reagem sendo sarcásticos comigo, ou até mesmo com agressividade, e tentam ferir meus sentimentos porque acham que estou rindo deles”, contou Paul.
Convivência
A doença pode provocar inúmeros desconfortos, como desentendimento ou atraindo atenção indesejada. Mas, com o tempo, Paul aprendeu a lidar com a situação, desenvolvendo seu próprio método para controlar as crises.
“Eu sinto uma risada chegando alguns segundos antes e às vezes consigo controlar. A risada não dura muito, um minuto no máximo, mas pode causar muitos problemas se as pessoas não entenderem”, explicou. “Pensando em algo ou alguém ruim, mas sem sentimento, consigo evitar a maior parte das crises.”
Paul teve de abrir mão de seu trabalho como eletricista e hoje passa a maior parte de seu tempo em terapias e na reabilitação. Hoje, sua mãe é sua cuidadora em tempo integral, além do pai e os irmãos que a ajudam.
“Desde o incidente, encontramos as pessoas mais incríveis do mundo, todas querendo me ajudar. Por outro lado, me sinto como se estivesse sob prisão domiciliar porque a lesão afetou minha mobilidade e equilíbrio, preciso de ajuda sempre que saio de casa.”
Violência
Desde 2014, Paul trabalha com a polícia local em uma campanha para educar as pessoas sobre a violência como consequência do uso de álcool. Ele visita escolas e universidades.
Os homens que o agrediram foram condenados com penas de nove meses a quatro anos de prisão. “Aquele que me chutou com toda a força na cabeça, e quase me matou, foi solto. E quanto a mim? Dez anos depois, ainda estou cumprindo minha sentença.”