Algumas pesquisas já estabeleceram que estar desempregado pode causar solidão. Um novo estudo da Universidade de Exeter, na Inglaterra, no entanto, é o primeiro a afirmar que o oposto também se aplica à população em idade ativa. Publicado na BMC Public Health, a pesquisa descobriu que as pessoas que relataram “sentir-se sozinhas com frequência” eram significativamente mais propensas a ficarem desempregadas. A análise também confirmou descobertas anteriores de que o inverso é verdadeiro – as pessoas que estavam desempregadas eram mais propensas a experimentar a solidão.
“Dados os efeitos persistentes e potencialmente prejudiciais da solidão e do desemprego na saúde e na economia, a prevenção de ambas as experiências é fundamental”, afirmou Nia Morrish, da Universidade de Exeter e principal autora do estudo. “Assim, deve ser dada atenção especial à solidão com apoio dos empregadores e do governo para melhorar a saúde e o bem-estar. Nossa pesquisa foi amplamente realizada antes da pandemia, no entanto, suspeitamos que esse problema pode ser ainda mais evidente, com mais pessoas trabalhando em casa e potencialmente sofrendo isolamento por causa das ansiedades em torno da Covid-19”, completou.
A pesquisa analisou, em grande parte, dados pré-pandêmicos de mais de 15.000 pessoas no Understanding Society Household Longitudinal Study, com respostas dos participantes nos períodos de 2017 a 2019 e 2018 a 2020, controlando fatores como idade, gênero, etnia, educação, estado civil, composição da família, número de filhos no domicílio e região.
“A solidão é um problema social incrivelmente importante que, muitas vezes, é pensado apenas em termos do impacto na saúde mental e no bem-estar. Nossas descobertas indicam que também pode haver implicações mais amplas, que podem ter efeitos negativos impactos para os indivíduos e a economia”, aponta a professora Antonieta Medina-Lara, autora sênior da pesquisa, enfatizando que a necessidade de se explorar esse tema mais a fundo para lançar bases aos empregadores ou formuladores de políticas públicas.
“Nossos resultados mostram que essas duas questões podem interagir e criar um ciclo negativo e auto-realizável. Há uma necessidade de maior reconhecimento dos impactos sociais mais amplos da solidão na população em idade ativa”, pondera Ruben Mujica-Mota, coautor do estudo e professor Associado de Economia da Saúde na Faculdade de Medicina da Universidade de Leeds, que colaborou com o levantamento.