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Pessoas que já tiveram dengue estão mais protegidas contra zika

Pesquisa mostra que a redução de contágio é de 25% para a maioria das pessoas que desenvolveram anticorpos após uma infecção por dengue

Por Redação
Atualizado em 4 jun 2024, 15h58 - Publicado em 8 fev 2019, 16h06
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  • O Ministério da Saúde informou esta semana que 250 cidades no estado de São Paulo estão em estado de alerta para dengue, zikachikungunya, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. No entanto, um estudo publicado no periódico Science pode trazer uma boa notícia: indivíduos que já tiveram dengue em algum momento da vida apresentam menor risco de infecção pelo zika vírus. A explicação: é possível que os anticorpos produzidos para combater a contaminação pela dengue ofereça proteção cruzada contra o zika. Segundo a pesquisa, a redução de contágio é de 25% para a maioria dos indivíduos que desenvolveram anticorpos após uma infecção por dengue. Em alguns casos, essa proteção pode subir para 44%.

    Apesar disso, os pesquisadores descobriram que indivíduos que foram infectados recentemente por dengue tem resultado oposto, ou seja, estão mais propensos ao zika. Algumas das possíveis explicações para o fenômeno podem ser anticorpos protetores ainda não suficientemente desenvolvidos ou algum problema no sistema imunológico que aumenta o risco de contrair a doença. Além disso, a baixa imunidade poderia ser explicado pelo fato de que as duas infecções poderiam estar ocorrendo em um curto espaço de tempo, o que não permitiria ao organismo se proteger contra a segunda infecção.

    O estudo

    A equipe, composta de pesquisadores brasileiros e americanos, acompanhou 1.453 pessoas residentes em um bairro pobre de Salvador, na Bahia, que esteve entre os principais focos do surto de zika que aconteceu no Brasil em 2015. O estudo, que já vinha acontecendo antes da epidemia, permitiu o recolhimento de amostras antes, durante e depois do surto, o que permitiu análises comparativas. Antes do surto de zika, 642 participantes foram testados para infecção anterior por dengue; destes 86% apresentaram resultados positivos. O teste, que também avaliou o nível de anticorpos contra a doença, apontou que a cada duplicação dos níveis de anticorpos contra dengue correspondia a uma redução de 9% no risco de zika.

    Exames realizados durante a epidemia de 2015 indicou que 73% dos participantes apresentavam evidências de contaminação pelo zika. De acordo com os pesquisadores, indícios apontam que o número de infectados não foi maior porque muitos indivíduos haviam adquirido imunidade suficiente para reduzir a transmissão. Essa descoberta também explicaria  porque a epidemia no Brasil não foi ainda maior. “Isso significa que existem alguns anticorpos de proteção cruzada contra a dengue que também protegem contra o zika. Mais estudos podem ser necessários para avaliar se as novas vacinas contra a dengue podem ser úteis na prevenção do zika”, comentou Ernesto Marques, da Fundação Oswaldo Cruz, em nota

    Diante das descobertas, os cientistas ressaltaram a necessidade de desenvolver testes confiáveis e de fácil acesso comercial (ou nos sistemas públicos de saúde) para mulheres em idade fértil que tenham pretensão de engravidar. Isso ajudaria a determinar o nível de imunidade contra o zika, doença que pode causar microcefalia no bebê durante a gestação. A equipe também salientou a importância de determinar se a vacinação contra a dengue pode ajudar a proteger as gestantes contra o zika e, consequentemente, diminuir os riscos de saúde para a criança.

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    Outros estudos em andamento acompanham bebês nascidos de mulheres que tiveram zika durante a gestação para estabelecer se a imunidade contra a dengue da mãe foi capaz de diminuir os riscos de condições congênitas relacionadas ao zika nas crianças. 

    Evitando a picada

    Enquanto alguns cientistas se dedicam a relação entre a imunidade contra a dengue e a proteção contra o zika, outros tentam descobrir uma forma de evitar que mosquitos transmissores de doenças piquem o ser humano, impedindo, assim,  a contaminação. Esse é o caso da equipe da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos. Os pesquisadores descobriram que quando mosquitos recebem doses de neuropeptideo Y – substância responsável por diminuir a sensação de fome – eles ficam menos inclinados a picar o ser humano. “Evitar que mosquitos piquem seres humanos é um ponto importante de intervenção na estratégia global de saúde pública”, escreveram os autores na revista Cell.

    Segundo a equipe, as doses do medicamento seriam administradas através de armadilhas que imitam os sinais de um hospedeiro – para o qual os insetos são atraídos. Para eles, essa opção é mais eficiente do que técnicas que visam erradicar os mosquitos, que são importantes na manutenção da cadeia alimentar na natureza.

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    Dengue

    A dengue é a doença viral que mais se espalha no mundo. Transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, estima-se que 2,5 bilhões de pessoas no mundo vivam em área de risco de transmissão do vírus, o que causa entre 50 milhões e 100 milhões de infecções e 20.000 mortes anualmente.

    O vírus da dengue, possui quatro sorotipos (DENV 1, 2, 3 e 4), todos com circulação no Brasil, causa uma doença febril aguda. Na maioria dos casos, os sintomas são leves e autolimitados. A infecção por um sorotipo gera imunidade permanente para ele. No entanto, uma segunda infecção – por um outro sorotipo – é um fator de risco para o desenvolvimento da forma grave da doença (dengue hemorrágica).

    Zika

    O zika é um arbovírus, ou seja, sua transmissão ocorre principalmente através de mosquitos, em especial pelo Aedes aegypti, mas também pode ser adquirido através do contato sexual e pela transfusão de sangue. Quando se manifesta em adultos, os sintomas duram alguns dias e são leves, como erupções cutâneas, conjuntivite, artralgia e febre leve.

    No entanto, se a infecção acontece durante a gestação, a doença pode trazer sérias consequências uma vez que pode causar microcefalia – condição que faz a cabeça e o cérebro da criança serem menores que o normal, o que pode levar a convulsões, atraso no desenvolvimento e outras deficiências. O vírus também pode aumentar o risco do desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré – doença que leva o sistema imunológico a atacar os nervos e pode causar fraqueza muscular e paralisia.

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