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Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental

Segundo especialistas, problemas de saúde mental costumam ser desencadeados pela pressão no ambiente de trabalho ou por situações afetivas da vida pessoal

Por Letícia Passos
Atualizado em 31 jul 2019, 17h58 - Publicado em 31 jul 2019, 15h48
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  • Problemas de saúde mental têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo. A ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas. Aliás, o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E não para por aí. Novos dados mostram que 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão. 

    O levantamento feito pela Vittude, plataforma on-line voltada para a saúde mental, aponta que 37% das pessoas estão com stress extremamente severo, enquanto 59% se encontram em estado extremamente severo de depressão. A ansiedade extremamente severa atinge níveis ainda mais altos: 63%.

    De acordo com a psicóloga Heloísa Caiuby, esses números são reflexo da realidade que estamos vivendo. “O mundo está muito difícil, rápido e cheio de mudanças. Muitas vezes não temos tempo sequer de assimilar uma mudança e já vem outra. Isso causa uma angústia tremenda porque as pessoas não conseguem dar conta”, explica.

    Os dados coletados pela plataforma consideraram sensações e sentimentos vividos nos setes dias que antecederam a pesquisa. O levantamento considerou a resposta de 492.790 pessoas, entre 4 de outubro de 2016 e 23 de abril de 2019.

    Ambiente de trabalho

    Algumas das pressões mais fortes podem vir do ambiente de trabalho: 20% dos funcionários ativos estão trabalhando sob forte pressão emocional, o que compromete a saúde física e psíquica, resultando em queda na produtividade, absenteísmo (faltas) e maiores taxas de contratação e demissão (troca de funcionário). Além disso, cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do stress — um dos primeiros sinais da síndrome de burnout —, segundo a International Stress Management Association (Isma-BR).

    Outros dados recentes mostram que 49% dos trabalhadores no Brasil já tiveram crises de ansiedade, enquanto 44% dizem ter sofrido com o esgotamento mental devido ao stress profissional (burnout), segundo pesquisa realizada pela Talenses, uma empresa de recrutamento.

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    “Ser pressionada para apresentar resultados e ser cada vez mais eficiente em um ambiente em que a pressão é forte e a competitividade é muito grande leva uma pessoa a duvidar de si mesma e de sua capacidade de alcançar os resultados exigidos. Isso gera frustração, que pode criar um ciclo vicioso a cada nova demanda e isso vai se repetindo até as pessoas pifarem”, comenta Heloísa.

    Como reduzir?

    De acordo com a especialista, é possível reduzir esses números se empresa e funcionário trabalharem juntos para tornar o ambiente de trabalho menos tóxico. No lado da empresa, por exemplo, é preciso criar políticas que visem ao bem-estar do funcionário, garantindo cargas de trabalho compatíveis com a capacidade de realização das pessoas, oferecendo intervalos de descanso e oportunidades de lazer em algum momento do dia ou da semana, disponibilizando aconselhamento para que o funcionário tenha a quem recorrer em momentos de necessidade e ofertando práticas de saúde que vão além dos exercícios laborais.

    Já o funcionário deve avaliar sua postura dentro da empresa, especialmente aquele que ocupa cargo de liderança. Muitas vezes, a empresa tem um ambiente saudável, mas um gestor ou departamento prejudica essa dinâmica. Ou seja, é necessário eliminar os relacionamentos abusivos — caracterizado pelo famoso “ou faz ou vai para a rua” —, estimular feedbacks que corrijam falhas ao mesmo tempo em que estimulem a autoconfiança e melhorem o desempenho, além de delegar tarefas quando, por algum motivo, o funcionário não está sendo capaz de administrar uma atividade por conta própria.

    Transtornos mentais

    Os transtornos mentais mais comuns são depressão e ansiedade. Apesar de serem problemas de saúde mental altamente divulgados, muitas pessoas ainda não entendem completamente os sintomas e as manifestações que caracterizam cada um deles.

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    De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão é caracterizada por sintomas como: tristeza profunda, falta de ânimo, pessimismo e baixa autoestima. O transtorno ainda pode “tirar” o prazer de atividades que antes eram prazerosas, provocar oscilações de humor e levar a pensamentos suicidas. “Para quem tem depressão, é tudo ou nada. Tudo é horroroso e nada está bom”, explica Heloísa. Ainda há manifestações físicas, como dor de cabeça incessante, insônia frequente e perda de apetite, por exemplo.

    Já o transtorno de ansiedade é caracterizado por preocupações ou medos exagerados — o que impede a pessoa de relaxar — e  sensação constante de que algo ruim vai acontecer. O problema também traz muitas manifestações físicas, incluindo sudorese, palpitação, insônia, tremores, boca seca, dor de cabeça e tonturas, por exemplo.

    Segundo Heloísa, em ambos os transtornos é preciso estar atento para a duração e intensidade dos sintomas vivenciados. “Quando você está se sentido triste ou frustrado e passear no parque é suficiente para te fazer melhorar, é apenas um episódio. Mas quando os sentimentos duram muito tempo e são intensos a ponto de piorar a qualidade de vida, prejudicar o convívio social e afetar a saúde física, é um sinal amarelo”, explica a psicóloga.

    Ajuda psicológica

    Para Heloísa, no momento em que a pessoa sente que precisa de ajuda já é um sinal de que ela não está conseguindo equilibrar as situações do dia a dia sozinha. Uma vez que isso acontece, é preciso procurar ajuda de um profissional de saúde capacitado. Mas ela ressalta que, apesar de reconhecerem a necessidade de ajuda, algumas pessoas acabam recorrendo a tratamentos alternativos sem comprovação científica em vez de ir ao psicólogo. Isso pode ajudar temporariamente, mas, no geral, prejudica o indivíduo e pode até mesmo agravar a situação.

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    Para evitar esse problema, consulte profissionais através do seu plano de saúde. Caso não tenha plano ou prefira consultas particulares, procure recomendações de amigos ou clínicas de sua confiança. Ainda há a opção de plataformas online que fazem a conexão entre o paciente e o psicólogo, como é o caso da Vittude. De acordo com Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da empresa, a maior parte das consultas acontece on-line (por videochamada, por exemplo) e o custo varia de 50 a 350 reais por sessão — ou seja, cabe em todos os bolsos.

    O site ainda oferece o teste DASS 21, um teste rápido com 21 questões que ajuda a detectar níveis de stress, depressão e ansiedade. Apesar de não ser regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), os resultados têm precisão de 97% e podem ser importantes indicativos para quem está em dúvida sobre o que está sentindo. “Nós precisamos estar alertas para as pressões que vivemos no dia a dia, para saber quando e se precisamos de ajuda. Em caso positivo, é muito importante buscar ajuda de um profissional especializado”, comentou Tatiana.

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