Um estudo internacional, publicado no New England Journal of Medicine, feito nos Estados Unidos, constatou pela primeira vez que fatores de risco cardiovascular na infância estão diretamente relacionados ao aparecimento de doenças cardíacas em adultos. “Muitas evidências sugerem que as sementes das doenças cardiovasculares estão na infância, mas as evidências específicas que ligam as medidas da infância à doença clínica estavam ausentes até nosso estudo”, disse David Jacobs, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Minnesota. “Esta pesquisa é notável porque agora temos essa evidência e a encontramos seguindo os participantes desde a infância até a idade adulta ao longo de muitas décadas”.
Os dados do estudo derivam de pesquisas iniciadas há 40-50 anos na Finlândia, Austrália e cinco centros nos Estados Unidos, incluindo a Universidade de Minnesota, que formaram o consórcio International Childhood Cardiovascular Cohorts (i3C), composto por cerca de 40.000 indivíduos acompanhados desde a infância (3-19 anos) até o início da idade adulta.
Os resultados comprovam que existe uma associação entre fatores de risco cardiovascular na infância – como índice de massa corporal (uma medida de obesidade), pressão arterial, lipídios no sangue e tabagismo – e o desenvolvimento de eventos cardiovasculares em adultos, com 75% dos eventos ocorrendo antes dos 53 anos. Muitos dos indivíduos que tiveram eventos cardíacos quando adultos eram crianças com fatores de risco.
A pesquisa também sugere que esses fatores em jovens podem levar a problemas cardiovasculares bem cedo. “Jovens que começam a fumar podem ter maior risco de doença cardiovascular quando adultos”, afirma Jessica Woo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Cincinnati. “No entanto, quando esses fatores de risco são menores na idade adulta, por exemplo, parar de fumar entre a infância e a idade adulta, apresenta menor risco de desenvolver problemas no coração”.
A doença cardiovascular afeta mais de 126 milhões de pessoas por ano em todo o mundo e continua a ser a principal causa de morte nos Estados Unidos. A equipe do estudo aponta que o risco é real com a maioria das crianças norte-americanas, com problemas de saúde do coração muito antes de muitas pessoas se preocuparem com suas chances de terem ataques cardíacos e outros problemas sérios. “A maioria das crianças nasce saudável, mas infelizmente muitos dos benefícios do coração saudável são perdidos durante a infância. Atualmente, menos de 5% desfrutam de uma saúde cardiovascular ideal”, disse Julia Steinberger, professora da Minnesota. “Esperamos que este estudo seja um alerta para praticar bons comportamentos desde cedo”.
Embora o estudo não permita a identificação precisa de crianças destinadas a desenvolver doenças cardíacas, sugere um valor positivo de estratégias preventivas de saúde pública que podem reduzir os níveis de risco na infância, como promover alimentação saudável e atividade física em casa e na escola. Também aponta para a necessidade de mais pesquisas para identificar com mais precisão crianças em risco que desenvolvem doença cardiovascular clínica precoce. “Ajudar crianças, famílias e escolas a seguir as diretrizes atuais de comportamento de saúde é um excelente ponto de partida para ajudar a proteger nossas crianças”, finalizou Jacobs.