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O alto custo do câncer de mama quando detectado em estágio avançado

Diante do aumento nos casos de tumores, análises mostram que a demora no diagnóstico e tratamento multiplica os valores gastos. O check-up é vital

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h13 - Publicado em 28 out 2023, 08h00
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  • O tempo costuma fazer muita diferença na medicina: quanto antes se flagra um infarto ou um derrame, maiores as chances de sobrevivência e recuperação. Princípio parecido se aplica ao câncer. O diagnóstico precoce tende a elevar significativamente as possibilidades de cura — com menos sofrimento no percurso. Tal alerta cabe como uma luva para o tumor de mama, um dos mais prevalentes e o líder no ranking de gastos com a doença, segundo o instituto do câncer americano. Descobrir o perigo mais cedo, portanto, é decisivo do ponto de vista individual, mas também sob a perspectiva da saúde pública. Isso porque, fora os desgastes físicos e emocionais, as verbas consumidas crescem à medida que o tumor se agrava, em processo de metástase. É o que documenta um novo estudo a partir de dados brasileiros. A má notícia: o custo do tratamento pode saltar mais de 50% quando o problema é detectado em estágio avançado, na comparação com os quadros iniciais.

    A análise, baseada em informações do Sistema Único de Saúde (SUS), acaba de ser apresentada pelo Observatório de Oncologia no Congresso Nacional de Mastologia. Ela contempla os subtipos da doença e um leque de exames e tratamentos como cirurgia, quimioterapia e radioterapia. As conclusões de âmbito econômico — que não consideram os custos domésticos, familiares e psicológicos envolvidos — só reforçam a relevância das mamografias anuais, zelo primário fundamental e compulsório.

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    ESSENCIAL - Exame de rotina: mamografia anual é indicada a partir dos 40 anos (choja/E+/Getty Images)

    No panorama traçado pelos médicos, os gastos com o câncer de mama triplo negativo, por exemplo, comum em mulheres com menos de 40 anos, aumentaram 52% entre a fase I e a IV, avançada, quando a doença se espalha para outras regiões do corpo. No caso dos tumores HER 2 positivo com receptores hormonais negativos — os nomes e sobrenomes envolvem o perfil bioquímico da doença e influem na eleição do plano terapêutico —, o salto foi de 89,5%. Em algumas situações, como nos cânceres de mama com receptores hormonais que acometem mulheres antes da menopausa, a alta pode bater gritantes 1 800%. “A ideia desse estudo não é olhar apenas para a verba consumida, informação relevante, mas também alertar para os riscos de diagnosticar e tratar a doença tardiamente, dada a redução das chances de cura”, diz Nina Melo, coordenadora do Observatório de Oncologia.

    É um fato. As pesquisas mostram que, se diagnosticadas em fase inicial, as pacientes alcançam a sobrevida em cinco anos, o padrão ouro de avaliação de um câncer, superior a 90%. Em etapa tardia, o índice cai para 15%. Essa linha de pesquisa tem se fortalecido na esteira da atenção dedicada à qualidade de vida e à produtividade de quem encara o câncer, nas consequências para familiares e empresas e na sustentabilidade dos sistemas de saúde. Trata-se de uma doença que, com maiores taxas de diagnóstico pelo mundo, impõe novos desafios à sociedade: estima-se um aumento de 20% na incidência dos tumores em geral desde a década passada.

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    A questão é global. Evocando os achados brasileiros, um levantamento britânico de 2018 com dados de quinze países de alta renda e cinco de baixa e média renda já havia demonstrado que o gasto médio do tratamento do câncer mamário dispara de acordo com seu grau de gravidade. Outro comparativo, feito por cientistas alemães, demonstrou em janeiro deste ano que, se na fase inicial o valor das terapias pode ficar em cerca de 20 000 euros, nos estágios avançados passava de 34 000 euros.

    A preocupação com o fardo financeiro da doença também tem movido os laboratórios a buscar formular medicações disruptivas com maior potencial de remissão e cura. Exemplifica a tendência um estudo clínico com um novo remédio recém-divulgado no congresso europeu de oncologia. A droga, chamada abemaciclibe, chegou a reduzir a recorrência de tumores de mama em 32% num prazo de cinco anos, após a cirurgia e em combinação com terapia hormonal. “É um grande ganho diminuir as chances de um câncer voltar. Para o sistema e para a autoestima e a saúde mental da paciente”, afirma Antonio Carlos Buzaid, diretor-médico do Centro de Oncologia da BP — Beneficência Portuguesa. Nesse sentido, o efeito colateral da inovação costuma recair no preço mais elevado dos fármacos, pelo menos de saída. “O alto custo inerente a esses tratamentos tem alertado os gestores para o que se chama de toxicidade financeira, um desafio para as redes pública e privada”, diz o oncologista Bruno Ferrari, CEO da Oncoclínicas. Para mitigá-lo, uma das receitas inescapáveis é apostar em exames preventivos, com a realização anual da mamografia a partir dos 40 anos. Uma estratégia crucial na corrida, inclusive financeira, contra o câncer.

    Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865

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