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Número de mortos por leptospirose sobe para 7 e RS registra 141 casos

Duas novas mortes foram confirmadas em Porto Alegre e Canoas; há 1.920 casos e dez óbitos em investigação

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 Maio 2024, 15h31 - Publicado em 30 Maio 2024, 13h28

O número de mortes por leptospirose relacionadas às enchentes que afetam o estado desde o fim de abril subiu para sete, segundo novo boletim da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul divulgado na noite desta quarta-feira, 29. O balanço da pasta informa que há 1.920 casos da doença e dez óbitos em investigação. Uma projeção do Ministério da Saúde aponta que os episódios da infecção causada pelo contato com água contaminada por urina de ratos podem chegar a 1,6 mil.

As duas vítimas eram dois homens de 59 e 56 anos moradores de Canoas e Porto Alegre, que morreram nos dias 21 e 23 deste mês, respectivamente. As amostras que confirmaram a infecção foram analisadas pelo Laboratório Central do Estado (Lacen), localizado na capital, que divulgou os resultados nesta quarta.

Ainda segundo a secretaria, outras ocorrências de saúde relacionadas aos alagamentos foram registrados: um episódio de tétano acidental, 182 acidentes antirrábicos, 28 acidentes com animais peçonhentos e cinco surtos de diarreia aguda que resultaram em 59 pessoas afetadas.

Mortes por leptospirose

A primeira morte por leptospirose relacionada aos alagamentos no Rio Grande do Sul foi confirmada na noite do dia 20 pela Secretaria Estadual da Saúde. O paciente era um homem de 67 anos que morava no município de Travesseiro, na região do Vale do Taquari, que apresentou os primeiros sintomas no dia 9 e morreu no dia 17.

A doença já circula no território do Rio Grande do Sul, e, do início do ano até 19 de abril, foram registrados 129 casos e seis óbitos. No ano passado, foram 477 registros e 25 mortes.

Entenda a leptospirose

Causada pela bactéria leptospira, a leptospirose é causada pelo contato direto com a urina de animais infectados ou com água ou lama contaminadas, como ocorre em enchentes. Os sintomas costumam aparecer entre cinco e 14 dias após a contaminação, mas podem se manifestar em um período de até 30 dias.

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A pessoa deve buscar atendimento médico ao apresentar sintomas como febre, dores no corpo e na cabeça, fraqueza e calafrios. No caso das dores, é importante ficar atento especialmente se elas atingirem a panturrilha, popularmente chamada de “batata da perna”.

O tratamento costuma ser feito com antibióticos, mas, se houver agravamento do caso, a internação é indicada para evitar complicações. Segundo o Ministério da Saúde, em episódios mais graves, o risco de morte pode chegar a 40%.

Cuidados para evitar a doença

Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), mesmo quando o nível da água baixar, será necessário adotar medidas de proteção em locais que tenham sido atingidos pelas enchentes, principalmente ao fazer a higienização deles. Isso porque a bactéria lepstopira pode viver por cerca de seis meses no ambiente.

A orientação é utilizar botas e roupas impermeáveis, além de luvas. Também é recomendado evitar o contato com a água represada nos pontos de alagamento.

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“A bactéria pode penetrar no corpo através da pele ou mucosas como nariz e boca, facilitando a disseminação da doença”, disse, em nota, Andre Doi, patologista clínico e diretor científico da entidade.

Para a desinfecção dos ambientes, a Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul indica o uso de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) na proporção de um copo de água sanitária para um balde de 20 litros de água.

“Outras medidas de prevenção são manter os alimentos guardados em recipientes bem fechados, manter a cozinha limpa sem restos de alimentos, retirar as sobras de alimentos ou ração de animais domésticos antes do anoitecer, manter o terreno limpo e evitar entulhos e acúmulo de objetos nos quintais. Isso ajuda a evitar a presença de roedores”, completa.

Enchentes e outras doenças

A situação crítica do estado abre espaço para outras infecções e proliferação de doenças. Além da leptospirose, episódios de hepatite A, diarreias, tétano, febre tifoide, cólera e verminoses podem afetar a população atingida.

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Assim como a água, alimentos podem ser responsáveis pelas infecções. “Não consuma alimentos que tenham tido contato com a água da inundação ou lama, incluindo alimentos embalados, enlatados ou alimentos perecíveis, como frutas, legumes e verduras”, alertou, em nota, o Ministério da Saúde.

Guias orientam sobre doenças causadas por tragédias climáticas

Doença causada pelo contato com água contaminada pela urina de animais, principalmente ratos, infectados com uma bactéria, a leptospirose está entre as principais preocupações de especialistas em saúde pública. Diante do quadro de enfermidades variadas que podem acometer a população, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançou guias em parceria com outras entidades médicas com orientações sobre como evitar infecções em desastres climáticos e também em abrigos.

No guia de manejo, há explicações detalhadas sobre doenças que podem ser transmitidas por água contaminada, como cólera, hepatite A e leptospirose, doenças respiratórias e também condições causadas por vetores, caso da dengue e da febre amarela.

O documento foi elaborado por meio de uma força-tarefa que envolveu representantes de entidades médicas gaúchas, que mapearam os principais riscos em situações de grandes enchentes, incluindo os acidentes com animais peçonhentos e materiais cortantes — esses últimos podem levar a casos de tétano.

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“Havia uma nítida carência de diretrizes técnicas, e muitas eram as doenças que potencialmente poderiam acometer a população gaúcha, sobretudo aquela mais exposta a risco: os socorristas e as pessoas resgatadas”, diz trecho do documento assinado por Alessandro Comarú Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, e Fabrizio Motta, chefe do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre.

Outro guia traz recomendações sobre higiene das mãos, roupas e dos abrigos como um todo, medidas de segurança alimentar e as enfermidades que costumam causar surtos em locais que concentram os desabrigados, como pneumonia, tuberculose, diarreias e problemas que afetam a pele e o couro cabeludo, como infestações por piolhos e outros parasitas.

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