Dois estudos da Universidade de São Paulo (USP), feitos por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e publicados nas revistas científicas Molecular and Cellular Neuroscience e Experimental Physiology mostram que o acúmulo de sódio no cérebro pode ser uma das causas da hipertensão. Realizados com camundongos, as pesquisas demonstraram ainda que o alto consumo de sal (cloreto de sódio) leva a quadros de retenção de sódio no líquor, líquido que protege o sistema nervoso central, e ativação dos astrócitos, as células mais abundantes do SNC.
Durante as pesquisas, os camundongos receberam uma solução de água com 2% de cloreto de sódio por uma semana e desenvolveram hipertensão. Além do aumento da pressão arterial sanguínea, houve acúmulo de sal no cérebro, mais precisamente no líquor. “Os animais expostos ao alto consumo de sal apresentaram hipertensão e acúmulo de sódio no líquor, mas não no sangue. Dessa forma, podemos presumir que a gênese da hipertensão envolve um componente neural, a qual pode estar relacionada a esse excesso de sódio retido no líquor”, diz Paula Magalhães Gomes, doutora e pós-doutoranda do Laboratório de Controle Neural da Circulação (LCNC), do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB da USP, e primeira autora de um dos artigos. Segundo a especialista, o próximo passo é investigar mais a fundo os mecanismos fisiológicos por trás do acúmulo de sódio no líquor e sua relação com a hipertensão.
Os pesquisadores do ICB descobriram ainda que os astrócitos ficaram mais ativados no cérebro dos ratos que consumiram mais sal. “De maneira geral, são células que, além de dar sustentação para os neurônios, também são responsáveis por liberar diversos neurotransmissores, dentre eles o ATP [trifosfato de adenosina], uma molécula conhecida pela sua função no metabolismo energético celular, mas que também atua como neurotransmissor. com o alto consumo de sal, os astrócitos são ativados de forma intensa”, explica Renato Willian Martins de Sá, doutor pelo LCNC, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
De acordo com o professor Vagner Roberto Antunes, coordenador do laboratório, existem estudos que evidenciam que o acúmulo de sódio no líquor pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças do sistema cardiovascular e neurodegenerativas como o Alzheimer, já que o excesso de sal no cérebro pode alterar as funções das células neurais. Assim, enquanto não existem terapias para resolver esse problema, os especialistas recomendam que as pessoas moderem no consumo de sal, ou seja, até 5g por dia como é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).