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Fumar aumenta o risco de infecção e forma grave de vírus, diz estudo

Pesquisa americana sugere que pulmão de fumantes tem mais receptores usados pelo coronavírus para invadir as células

Por Da redação
Atualizado em 26 Maio 2020, 17h08 - Publicado em 26 Maio 2020, 16h57
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  • Dois estudos publicados recentemente mostraram que fumar não só aumenta o risco de infecção pelo novo coronavírus como a probabilidade de desenvolver sintomas mais graves da doença. Um estudo feito por pesquisadores do Imperial College de Londres, no Reino Unido, com 2,4 milhões de pessoas mostrou que os fumantes tinham uma probabilidade maior de apresentar sintomas compatíveis com Covid-19 (incluindo os pouco comuns, como diarreia, perda de apetite e delírio) e de serem internados por causa da doença.

    Os pesquisadores analisaram dados de usuários do aplicativo COVID Symptom Study, que solicita às pessoas relatos regulares de saúde e identifica se elas apresentam sintomas do coronavírus, com o objetivo de dar um panorama mais claro do surto no Reino Unido. Entre os usuários, 11% eram fumantes.

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    Os resultados mostraram que os fumantes tinham um risco 14% maior de desenvolver sintomas compatíveis com diagnóstico de Covid-19, como tosse persistente e febre. Eles também apresentavam uma chance 50% maior de sofrer outros sintomas, como diarreia, perda de apetite e delírio, além de um risco duas vezes mais alto de precisar comparecer ao hospital.

    “Nossos resultados fornecem evidências convincentes de uma associação entre o tabagismo e o risco de Covid-19”, escreveram os autores. O estudo ainda está em fase de pré-publicação e precisa ser revisado por pares.

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    Os resultados em humanos mostraram que o pulmão de quem fumava mais revelava níveis mais altos de ECA2. Essa associação permaneceu mesmo após serem considerados considerados fatores como idade, sexo, etnia e índice de massa corporal (IMC) dos participantes. Por outro lado, parar de fumar reverteu esse aumento. Por exemplo, as pessoas que não fumavam há um ano apresentavam uma redução de cerca de 40% na expressão da ECA2 no pulmão, em comparação com aqueles que ainda fumavam.

    De acordo com os pesquisadores, o aumento desses receptores está associado a uma maior quantidade das células caliciformes em fumantes. Estas células pulmonares secretam muco e ajudam a proteger as vias aéreas dos efeitos irritantes da fumaça. Por outro lado, ter mais células caliciformes significa ter mais receptores ECA2 e, consequentemente, aumenta a vulnerabilidade a infecções graves por SARS-CoV-2. Os resultados deste estudo já foram revisados e ele está prestes a ser publicado na revista científica Developmental Cell.

    Polêmica

    A associação entre o tabagismo e o risco de infecção por coronavírus é uma polêmica desde o início da pandemia, quando estudos sugeriram que fumar poderia, de alguma forma, desempenhar um efeito protetor contra a doença. Por exemplo, um estudo publicado na revista científica The Lancet Infectious Diseases descobriu que pessoas que fumam e têm sintomas de gripe ou infecção respiratória eram menos propensas do que as pessoas que não fumam a testar positivo para SARS-CoV-2 na atenção primária.

    Outro estudo, que não foi submetido à revisão por pares, aponta a existência de poucos fumantes entre os pacientes hospitalizados com a infecção na China. Com base nisso, os autores especulam se a nicotina presente nos cigarros protegeria os fumantes. Um estudo na França chegou à mesma conclusão.

    A hipótese ganhou tanto destaque que pesquisadores franceses decidiram conduzir um estudo clínico para avaliar os possíveis efeitos protetores da nicotina contra a Covid-19 por meio do uso de adesivos da substância (e não do cigarro). A hipótese era de que a nicotina poderia reduzir a expressão da ECA2 e dificultar a entrada do vírus nas células.

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    No entanto, diversas evidências apontam no sentido contrário. Por exemplo, não é novidade que fumantes correm maior risco de pegar outros vírus respiratórios porque, além de tocarem mais a boca, a fumaça danifica as vias aéreas e os pulmões. Além disso, especialistas alegam que a menor incidência de fumantes com Covid-19 ocorre porque essas pessoas tendem a ficar em estado mais grave e precisar de atendimento em UTI – alguns estudos avaliaram apenas pacientes internados em enfermaria – e porque nem todos os médicos fizeram essa pergunta aos pacientes e não existe esse dado no registro.

    “O estudo é falho e extremamente enviesado. Os pesquisadores não incluíram pacientes em terapia intensiva. Sabemos, por estudos publicados anteriormente, que fumantes têm maior risco de um pior desfecho da Covid-19 e, portanto, há maior probabilidade de encontrar essas pessoas em UTI”, comentou o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, em referência ao estudo francês que sugeriu que fumantes correm um risco menor de desenvolver sintomas e formas graves de Covid-19.

    Para Jason Sheltzer, pesquisador à frente do estudo do Laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York, a grande repercussão associada à alegação de que o fumo protege contra a Covid-19 está associado ao fato dessa associação ser “contra-intuitiva”. Ainda segundo o pesquisador, é muito provável que ela esteja errada. “Uma abundância de dados – incluindo metanálises de alta qualidade – demonstram que os fumantes tendem a ter casos mais graves de Covid-19 do que os não fumantes”, disse ao site especializado Medical News Today.

    Outro fator que contraria a associação protetiva do tabagismo à Covid-19 é que fumar é um dos fatores associados ao desenvolvimento de problemas de saúde como hipertensão, diabetes e doenças pulmonares, que são os principais fatores de risco para complicações por infecção por coronavírus. “Além disso, hoje se discute muito o papel da inflamação na infecção por coronavírus e o tabagismo causa inflamação crônica nos pulmões, nas artérias e no corpo em geral. Então eu não vejo logica em um estudo desse”, ressalta o pneumologista Elie Fiss. Portanto, a recomendação de saúde segue a mesma: o tabagismo é fortemente contraindicado.

     

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