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Doença de Parkinson: nova pesquisa abre caminho para o tratamento com células-tronco

Dois ensaios clínicos avaliaram a segurança das aplicações, enquanto um terceiro teve a inflamação como alvo principal

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 abr 2025, 12h39

Os estudos com células-tronco tiveram um início promissor, mas um misto de resultados preliminares desanimadores e polêmicas éticas e religiosas fizeram com que boa parte do mundo esquecesse dessa opção. Agora, esse tipo de pesquisa volta a ganhar os holofotes com a possibilidade de uso dessa terapia para o tratamento da Doença de Parkinson. 

Nesta quarta-feira, 16, dois estudos independentes publicados na Nature abrem caminho para esse tipo de tratamento. Uma delas é japonesa e utilizou células-tronco produzidas em laboratório, enquanto a estadunidense utilizou células embrionárias. “Os resultados são encorajadores porque mostram que o uso de transplantes alogênicos (não próprios) para o tratamento da doença de Parkinson provavelmente é seguro”, escreveu Hideyuki Okano, em um artigo que acompanha as publicações. 

Em ambos os estudos clínicos, os pesquisadores transformaram as células troncos em precursores de neurônios produtores de dopamina – os principais afetados na doença – e inseriram nos dois lados do cérebro dos pacientes. Em nenhum dos estudos os participantes apresentaram efeitos colaterais nem o crescimento de tumores. As primeiras avaliações de eficácia também mostraram que a maior parte dos indivíduos observou alguma melhora nos sintomas. 

Hoje, a possibilidade de tratamento dessa doença neurodegenerativa ainda é limitada. “O tratamento padrão para Parkinson é sintomático e foca principalmente na reposição da dopamina ou no controle de seus efeitos”, diz Patrícia Pontes, especialista em neurogenética e médica geneticista da Dasa Genômica. “As terapias mais comuns incluem a levodopa (frequentemente combinada com carbidopa), agonistas dopaminérgicos e inibidores de MAO-B.”

O problema é que, à medida que as células produtoras de dopamina vão sendo perdidas, a eficácia do tratamento diminui, já que o cérebro se torna menos capaz de transformar a levodopa no neurotransmissor envolvido no prazer e no controle de movimentos. 

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Outra frente de tratamento

O Parkinson é a doença neurodegenerativa em que as pesquisas com células-tronco estão mais evoluídas, com resultados bastante promissores. Há, no entanto, diversas outras frentes de investigação – uma delas focando no papel da inflamação, um ciclo vicioso que acelera o dano neurológico. 

“Diversos estudos sugerem que, além da degeneração de neurônios dopaminérgicos, há uma ativação crônica do sistema imune. Células da micróglia, que são os “guardas” imunológicos do sistema nervoso central, ficam ativadas e liberam citocinas inflamatórias que podem acelerar a morte neuronal”, explica Pontes. 

Para tentar reverter esse problema, um grupo do Centro de Pesquisa Biomédica de Cambridge realizou um ensaio clínico para avaliar se a supressão do sistema imune poderia beneficiar os pacientes. Para isso eles trataram os participantes com Azatioprina, um imunossupressor comumente utilizado ao redor do mundo. 

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No total foram 66 participantes, metade deles tratado com o imunossupressor e a outra metade, com placebo, ao longo de 12 meses. Os resultados, apresentados no início de abril no AD/PD 2025, o maior congresso do mundo para discutir Parkinson e Alzheimer, mostram que o medicamento foi capaz de retardar a progressão da doença. “Atualmente, não existem terapias disponíveis para curar ou retardar a progressão da doença de Parkinson”, disse Caroline Williams-Gray, uma das coordenadoras do estudo, em comunicado. “Sabemos que a inflamação no cérebro é um fator envolvido, mas esta é a primeira vez que conseguimos demonstrar que é possível combatê-la pela supressão do sistema imunológico, com potencial para trazer benefícios aos pacientes.”

O trabalho foi bem recebido por especialistas, que esperam pelos próximos resultados. “O estudo com azatioprina representa uma mudança de paradigma”, afirma Pontes. “O próximo passo será validar esses achados em estudos de maior escala. Além disso, esses avanços abriram caminho para uma nova fase de pesquisa com agentes imunomoduladores mais seletivos.”

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