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De onde pode vir a próxima pandemia?

Mudanças climáticas devem desencadear a próxima crise sanitária, impulsionada pelo compartilhamento de vírus entre espécies de mamíferos

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jul 2022, 17h37 - Publicado em 3 Maio 2022, 15h20

À medida que o clima da Terra continua em aquecimento, pesquisadores preveem que animais selvagens serão forçados a realocar seus habitats – provavelmente para regiões com grandes populações humanas – aumentando drasticamente o risco de um salto viral que pode levar à próxima pandemia. Essa ligação entre mudanças climáticas e transmissão viral é descrita em uma pesquisa internacional, publicada em abril na revista Nature, liderada por cientistas da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.

Primeira avaliação abrangente de como as mudanças climáticas irão reestruturar o vírus global em mamíferos, o trabalho se concentra nas modificações de distribuição geográfica e nas jornadas que as espécies realizarão à medida que seguem seus habitats para novas áreas. Ao encontrar outros mamíferos pela primeira vez, a pesquisa projeta que compartilharão milhares de vírus, tornando-os mais difíceis de rastrear e ficando mais fácil para saltarem para os humanos.

“A analogia mais próxima são os riscos no comércio de vida selvagem”, diz Colin Carlson, professor assistente de pesquisa no Centro de Ciência e Segurança da Saúde Global do Centro Médico da Universidade de Georgetown e principal autor do estudo. “Nos preocupamos com os mercados porque reunir animais insalubres em combinações não naturais, cria oportunidades para esse processo gradual de emergência como o SARS-CoV-2, que pulou de morcegos para civetas e, em seguida, para pessoas”.

De acordo com o estudo, no entanto, os mercados não serão mais especiais; com o clima em mudança, esse tipo de processo será a realidade na natureza em quase todos os lugares. O que preocupa são os habitats dos animais que se moverão desproporcionalmente nos mesmos lugares que os humanos, criando novos focos de risco de transbordamento. Grande parte desse processo já está em andamento no planeta que hoje está 1,2 graus mais quente.

Outra descoberta importante é o impacto que o aumento das temperaturas terá nos morcegos, que representam a maioria dos novos compartilhamentos virais. Sua capacidade de voar permitirá que viajem longas distâncias e compartilhem a maioria dos vírus. Devido ao seu papel central na emergência viral, os maiores impactos são projetados no sudeste da Ásia, hotspot global de diversidade de morcegos. “A cada passo, nossas simulações nos pegam de surpresa. Passamos anos verificando esses resultados, com dados e suposições diferentes, mas os modelos sempre nos levam a essas conclusões. É um exemplo realmente impressionante de quão bem podemos, na verdade, prever o futuro se tentarmos”, refletiu Carlson,

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À medida que os vírus começam a saltar entre as espécies hospedeiras de maneira sem precedentes, os autores dizem que os impactos na conservação e na saúde humana podem ser impressionantes. “Esse mecanismo adiciona mais uma camada à forma como as mudanças climáticas ameaçarão a saúde humana e animal”, diz Gregory Albery, PhD, coautor do estudo e pós-doutorando no Departamento de Biologia da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Georgetown. “Não está claro exatamente como esses novos vírus podem afetar as espécies envolvidas, mas é provável que muitos deles se traduzam em novos riscos de conservação e alimentem o surgimento de novos surtos em humanos”.

Ao todo, a pesquisa sugere que a mudança climática se tornará o maior fator de risco para o surgimento de doenças – superando questões de maior visibilidade, como desmatamento, comércio de vida selvagem e agricultura industrial. Os autores dizem que a solução é combinar a vigilância de doenças da vida selvagem com estudos em tempo real de mudanças ambientais. “Quando um morcego brasileiro de cauda livre chega aos Apalaches, devemos investir em saber quais vírus estão se aproximando”, diz Carlson. “Tentar identificar esses saltos em tempo real é a única maneira de impedir que esse processo leve a mais transbordamentos e mais pandemias”.

O cientista acrescenta ainda que “estamos mais perto de prever e prevenir a próxima pandemia do que nunca”, já que o estudo é um grande passo em direção a isso. “Agora temos que começar a trabalhar na metade mais difícil do problema. A pandemia da Covid-19 e a disseminação anterior de SARS, Ebola e Zika mostram como um vírus que salta de animais para humanos pode ter efeitos maciços. Para prever isso, precisamos saber sobre sua disseminação entre outros animais”, conclui.

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