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Cuidado com compulsão alimentar deve avaliar risco de diabetes e obesidade

Condição psiquiátrica eleva risco de doenças crônicas e precisa estar no radar de psiquiatras e endocrinologistas; diabulimia é risco para adolescentes

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 jul 2024, 15h00
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  • RIO DE JANEIRO* — Em um episódio do transtorno de compulsão alimentar, os pacientes costumam procurar por opções ricas em açúcar e gorduras, ultraprocessados e alimentos que não são saudáveis. A condição psiquiátrica, identificada por repetição do comportamento ao menos uma vez por semana em um período de três meses, deve ser um sinal de alerta para doenças crônicas que não são psiquiátricas, mas que afetam a saúde. É o caso do diabetes e da obesidade, que podem ser impulsionados pelo consumo excessivo desses alimentos, destacaram especialistas durante o Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções, evento sobre neurociências que reuniu mais de 5.000 mil profissionais entre 26 e 29 de junho na capital fluminense. Eles pedem atenção também para a diabulimia, um perigo principalmente para adolescentes (leia mais abaixo).

    Esse transtorno é o mais comum entre os que incidem sobre a alimentação, com prevalência de 2% a 4%, e tem impactos negativos nos pacientes não só por desencadear sofrimento, vergonha, ansiedade e isolamento, mas por afetar a saúde como um todo. Isso porque o ato de comer rapidamente e em excesso uma grande quantidade de alimentos pode ter desdobramentos futuros.

    A condição pode ser intermitente e nem sempre o prazer em comer está envolvido nos episódios. Tanto que é comum que os pacientes misturem alimentos doces e salgados, quentes e frios, algo que pode ser visto no comovente A Baleia, filme que aborda os conflitos, traumas e dores de Charlie, um professor com obesidade mórbida interpretado por Brendan Fraser, que ganhou o Oscar de Melhor Ator no ano passado por sua atuação impecável.

    “É um ato de comer muito e mais rápido do que o normal, sozinho e, no fim, o paciente sente desgosto pelo que fez”, descreve Débora Kinoshita, psiquiatra no Ambulatório de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

    Compulsão alimentar e diabetes

    O diabetes já é considerado uma pandemia e as projeções indicam que a doença não deve diminuir nas próximas décadas. Apenas nas Américas Central e do Sul, há mais de 32 milhões de casos de diabetes e, em 2045, a perspectiva é de um aumento de 40% no número de casos.

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    O Brasil, segundo estudos apresentados no congresso, ocupa a sexta posição entre os países com mais pacientes diagnosticados com a doença e quase 70% deles não se mantêm dentro das metas estabelecidas para o tratamento, comportamento que pode levar a quadros de descompensação.

    “O transtorno de compulsão alimentar antecede o diabetes em 90% dos pacientes que vivem com essas duas comorbidades, por isso, todo paciente que faz tratamento para a condição deve ter avaliação de peso e glicemia”, afirma o endocrinologista Marcelo Ronsoni, professor de Endocrinologia e Metabologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

    A relação com a obesidade também é observada na literatura científica e deve estar no radar dos psiquiatras. “As estimativas mostram que entre 15% e 45% das pessoas com transtorno de compulsão alimentar vivem com obesidade. Há pesquisas que trabalham até com 50% dos casos”, diz Erika Paniago Guedes, médica especializada em endocrinologia e metabologia e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Rio Verde (UniRV), de Goiás.

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    Diabulimia: um risco para os adolescentes

    Em pessoas que vivem com diabetes tipo 1, doença autoimune que faz com que o pâncreas não produza o hormônio responsável pelo controle da glicose no organismo — a insulina –, os médicos devem reforçar a atenção, especialmente com adolescentes e jovens que demonstrem insatisfação com a imagem e o próprio corpo. Isso porque eles podem manifestar a diabulimia, transtorno alimentar em que os pacientes diminuem o tratamento com insulina para alcançar perda de peso.

    Sem a produção adequada de glicose, o o corpo passar a usar gordura e músculos como fonte de energia. “O paciente emagrece muito, mas de forma não saudável. São pessoas que acabam tendo fraqueza, cansaço e atendimentos frequentes na emergência de hospitais”, explica Ronsoni.

    A preocupação dos especialistas é com a possibilidade de cetoacidose, condição que pode evoluir para um grave estágio de desidratação, levando à perda de consciência e que pode até deixar o paciente em coma. Em casos mais críticos, pode matar. Por isso, os especialistas defendem a união de experiências para oferecer o tratamento mais completo para quem sofre com esses problemas.

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    “O paciente é único. Então, é preciso se atentar a pequenos detalhes, porque o paciente não vem em partes”, finaliza.

    * A repórter viajou a convite do Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções

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