Ainda no auge da pandemia de Covid-19, ficou claro que o vírus oferecia riscos para grávidas e seus bebês. Distúrbios hipertensivos da gravidez, necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), parto prematuro e morte, inclusive do feto, estão entre as possíveis complicações apontadas em estudos recentes e não é à toa que as campanhas que incluem as gestantes no grupo de prioridade para vacinação (leia abaixo). Uma nova pesquisa, publicada no periódico Pediatrics, reforçou o potencial da vacina não só para as mulheres, mas para o feto: a proteção é passada para o recém-nascido e dura até seis meses, fase em que a criança já está apta para ser imunizada.
No estudo, pesquisadores de um dos núcleos dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos avaliaram dados de 475 bebês, dos quais 271 eram filhos de mulheres que receberam duas doses da vacina com RNA mensageiro, como o imunizante da Pfizer, durante a gravidez. As outras 204 nasceram de mães que, além de completar o esquema inicial com duas doses, receberam um reforço na gestação.
Ao longo de seis meses, as crianças foram acompanhadas em consultas e o grupo analisou amostras de sangue delas. A conclusão foi de que os recém-nascidos se mantinham com proteção contra a infecção no período. E essa barreira foi maior entre os bebês das gestantes que receberam a dose de reforço. Nenhuma criança precisou ser hospitalizada por Covid-19.
Em estudo anterior, os cientistas já tinham comprovado que era possível encontrar anticorpos no sangue do cordão umbilical de voluntárias vacinadas durante a gravidez. Faltava chegar ao resultado sobre a duração dos níveis elevados de anticorpos e a eficácia deles para proteger os pequenos.
Os achados, divulgados na semana passada, se somam a outros estudos divulgados neste ano sobre a importância da imunização contra a infecção na gravidez. Uma robusta pesquisa publicada no American Journal of Obstetrics and Gynecology mostrou que recém-nascidos de mães que receberam reforço vacinal tinham menos da metade do risco de serem diagnosticados com o vírus em comparação aos bebês que não foram imunizados. A vacinação também levou a taxas mais baixas de parto prematuro, síndrome do desconforto respiratório e menor número de dias na UTI neonatal. O levantamento envolveu dados de 40 hospitais de 18 países, incluindo o Brasil.
“No começo, o objetivo da vacinação da grávida era proteger a mulher. A gente aprendeu que a gestante é um grupo de risco para desenvolver a forma grave da Covid. Hoje, é um balanço dos dois benefícios, porque grávida tem o risco de desenvolver a forma grave e também para proteger o bebê”, explica Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A avaliação dos impactos do reforço é outro ponto que tem sido destrinchado pelos cientistas. Em publicação no periódico The Journal of the American Medical Association (JAMA) no mês passado, estudiosos apontaram que a aplicação de três ou mais doses da vacina antes do parto, quando comparada com o esquema inicial, levou a níveis dez vezes maiores de anticorpos no cordão umbilical.
“A gente começa a discutir se vale dar uma dose de reforço no final da gravidez, como faz com a vacina contra a coqueluche em todas as grávidas, que tomam na segunda metade a gravidez para proteger o bebê. Nenhum país do mundo faz essa vacinação (de reforço contra a Covid para gestantes), mas é uma discussão a se fazer para a prevenção da doença nos menores de seis meses de idade”, diz Kfouri.
Covid-19 volta a crescer
A alta de casos de Covid-19 tem sido observada nas últimas semanas e, segundo as duas últimas edições do Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil concentram o aumento de episódios.
Na rede privada, de acordo com a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o número de testes positivos para a doença realizados cresceu 46% no carnavais de 2024 em relação ao do ano passado.
Em caso de resultado positivo para Covid-19, a orientação é se manter em isolamento e retornar às atividades a partir do sétimo dia apenas se não apresentar sintomas respiratórios ou febre nas últimas 24 horas. Se os sintomas persistirem, é necessário completar dez dias de isolamento.
Se a pessoa fizer um teste no quinto dia a partir dos sintomas e tiver um resultado negativo, pode sair do isolamento desde que não tenha apresentado sintomas da doença nas últimas 24 horas.
Vacina evita casos graves e mortes
No Brasil, a nova estratégia de vacinação contra a Covid-19, com a incorporação do imunizante no Programa Nacional de Imunizações (PNI), entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano e tem como foco as crianças de 6 meses a menores de cinco anos e grupos prioritários, como gestantes e idosos.
A medida prevê doses semestrais para pessoas com 60 anos ou mais, imunocomprometidos, grávidas e puérperas. Neste ano, um levantamento do Observatório Covid-19 da Fiocruz apontou um excesso de 40% em óbitos maternos de gestantes e puérperas em 2020 em relação aos anos pré-pandêmicos, revelando os altos impactos diretos e indiretos da pandemia na mortalidade materna.
O calendário será anual para os demais grupos prioritários: profissionais e pessoas que vivem em instituições de longa permanência, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, trabalhadores da saúde, pessoas com deficiência permanente ou comorbidades, pessoas privadas de liberdade com 18 anos ou mais, funcionários do sistema prisional, adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas e população em situação de rua.
Neste ano, também serão ofertadas doses para a atualização da caderneta de vacinação de pessoas que ainda não completaram o esquema vacinal e estão com doses em atraso. A vacinação é a forma mais eficaz de evitar internações e óbitos pela doença.