Covid pode ter causado 18 milhões de mortes, o triplo dos números oficiais
Estimativa de estudo considera 'óbitos excedentes' em dois anos de pandemia; no Brasil, mais de 180 mil mortes podem não ter sido notificadas oficialmente
Há exatos dois anos, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou a pandemia da Covid-19. Nesse período, a doença matou cerca de 18,2 milhões de pessoas no mundo, mais do que o triplo da soma dos números oficiais divulgados pelos governos ao redor do globo. É o que aponta um estudo publicado nesta quinta-feira, 10, na revista científica The Lancet, em uma colaboração internacional de 97 cientistas de vinte instituições diferentes.
O levantamento foi feito com base em dados sobre “óbitos excedentes”, ou seja, a quantidade de mortes ocorrida em 2020 e 2021, comparada com a quantidade de mortes esperadas. “Nossa estimativa da mortalidade excedente pela Covid-19 sugere que o impacto pela pandemia foi mais devastador do que a situação documentada pelas estatísticas oficiais”, escreveram os pesquisadores, baseados nos dados de mortalidade dos onze anos anteriores à crise sanitária, exceto situações como as guerras, que provocam um grande índice de mortes.
“Entre os países com maior número absoluto de mortes excedentes, aqueles com maior taxa de mortalidade são a Rússia e México. Brasil e EUA tiveram números similares”, dizem os cientistas, comandados por Haidong Wang, epidemiologista do Instituto para Métrica e Avaliação em Saúde (IHME), ligado ao governo dos Estados Unidos.
A pesquisa estima que, para cada 100 mil habitantes, a Rússia registrou 375 mortes a mais que o esperado. No México, o índice foi de 325 e no Brasil, 187, que se somariam às 619 mil relatadas oficialmente pelo governo federal.
Segundo o estudo da Lancet, a Bolívia foi o país que mais registrou mortes excedentes: 734 a mais por 100 mil habitantes do que o esperado. Entre os que tiveram menos mortes excedentes e, portanto, tiveram mais sucesso na contenção do coronavírus foram a Islândia, Austrália, Nova Zelândia, Cingapura e Tailândia. “Entender a verdadeira taxa de mortalidade da pandemia é vital para a tomada de decisões efetiva em políticas públicas. Com mais estudos, será possível revelar como muitas mortes foram causa direta da Covid-19 e quantas ocorreram como resultado indireto da pandemia”, afirmou Wang, em comunicado.