Pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, apontaram que períodos de distanciamento social, como o imposto à sociedade para conter o avanço do novo coronavírus, podem trazer danos profundos na capacidade dos adolescentes relacionarem-se frente a frente com outras pessoas que não façam parte de seu ciclo familiar.
A análise foi publicada nesta semana na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health. De acordo com o texto, pesquisas anteriores realizadas em roedores apontam que privações de contato durante a adolescência têm mais impacto no cérebro e no comportamento social nessa fase da vida do que em outras faixas etárias.
Essas interações sociais — agora suspensas — são parte fundamental do desenvolvimento em aspectos importantíssimos da vida, como o autoconhecimento e a saúde mental. O texto aponta que durante a adolescência (ali medida entre os 10 e 24 anos) os jovens têm relações mais complexas, com novos grupos de pessoas. Além disso, desenvolvem maiores habilidades cognitivas, o que permite que entendam a perspectiva de outras pessoas e possam “se colocar” no lugar delas.
LEIA TAMBÉM
Além da falta de ar: sequelas que o coronavírus pode deixar após a cura
Há, no entanto, um atenuante possível: manter contatos com outras pessoas por meios digitais podem amenizar os efeitos da atual privação social dos adolescentes, mas os pesquisadores pontuam que ainda é necessário que ocorra mais pesquisas acerca do tema, para entender melhor a função dessas interações.
Outros questionamentos ainda devem ser esclarecidos pelos pesquisadores. Um deles, por exemplo, é se o atual período de isolamento já será capaz de promover danos a longo prazo. Mesmo que temporários, vários meses de quarentena representam uma grande proporção da vida de um jovem durante esta etapa crucial de desenvolvimento.
Os pesquisadores também pontuam que é extremamente necessário buscar respostas sobre como outros estresses adicionais experimentados por adolescentes na pandemia da Covid-19, incluindo crises econômicas e perdas de ritos de passagem — como as formaturas, podem impactar seu desenvolvimento psíquico.