Uma nova cepa do Sars-CoV-2, nome do novo coronavírus, está se espalhando pela Europa. De acordo com um estudo divulgado nesta quinta-feira, 29, a variante foi detectada pela primeira vez em trabalhadores agrícolas no nordeste da Espanha em junho e se espalhou pelo continente, levada pelo fluxo de turistas durante o verão.
Até outubro, a 20A.EU1, nome da nova variante, foi identificada em 12 países do continente, além de Hong Kong e Nova Zelândia. Nos últimos dois meses, ela foi responsável por cerca de 90% das novas infecções na Espanha e por 40% a 70% das infecções registradas em setembro na Suíça, Irlanda e Reino Unido.
Segundo a equipe de cientistas da Universidade de Basel e ETH Zürich em Basileia, ambas na Suíça, e do SeqCOVID, na Espanha, a mutação não parece ser mais perigosa nem ter nenhuma vantagem em relação à versão original.
“É importante notar que atualmente não há evidências de que a propagação da nova variante seja devido a uma mutação que aumenta a transmissão ou impacta o resultado clínico”, enfatiza a líder do estudo, Emma Hodcroft, da Universidade de Basileia.
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Eles acreditam que sua proliferação esteja associada ao fato dos primeiros infectados terem circulado em vários lugares e encontrado um grande número de pessoas, devido ao afrouxamento das restrições a viagens e medidas de distanciamento social no verão europeu. “Vemos um padrão semelhante com esta variante na Espanha, como vimos na primavera. Uma variante, auxiliada por um evento inicial de superespalhamento [no caso, o versão europeu], pode rapidamente se tornar predominante em todo o país”, afirma o professor Iñaki Comas, co-autor do artigo e chefe do consórcio SeqCOVID-Espanha.
Os resultados do estudo indicam que as pessoas que voltavam de férias na Espanha podem ter desempenhado um papel na disseminação da nova variante do vírus pela Europa. A descoberta levanta questões sobre o recente aumento nos casos no continente poderia ter sido limitado por restrições mais rígidas na circulação de pessoas na Europa e exames aprimorados em aeroportos e outros centros de transporte.
Apesar de acreditarem que a nova variante não é mais transmissível que as anteriores, os pesquisadores não descartam essa possibilidade. “Atualmente não está claro se esta variante está se espalhando por causa de uma vantagem de transmissão do vírus ou se a alta incidência na Espanha seguida de disseminação por meio de turistas é suficiente para explicar o rápido aumento em vários países”, disse o estudo.
Vale ressaltar que o artigo foi publicado na plataforma medRxiv e ainda precisa ser revisado por pares para publicação em um jornal científico.