As postagens realizadas pelos usuários do Facebook podem ser uma excelente ferramenta para prever algumas condições de saúde. É o que sugere um estudo publicado esta semana na revista PLOS One. Segundo os pesquisadores, publicações na rede social fornecem informações que permitem a identificação de 21 doenças, incluindo psicose, ansiedade e alcoolismo.
“A personalidade, o estado mental e os comportamentos de saúde das pessoas estão refletidos em suas mídias sociais e essas informações podem fornecer dados adicionais sobre o gerenciamento de doenças”, explicaram os cientistas.
Segundo a equipe da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, esses resultados são possíveis porque o uso de algumas palavras específicas pode apontar para riscos de saúde. O estudo indicou, por exemplo, que indivíduos que usam muita linguagem religiosa, como as palavras “Deus” ou “orar”, estão 15 vezes mais propensos a ter diabetes. Já aqueles que frequentemente utilizam termos como “beber” e “bebida” (ou “cachaça”, no Brasil) revelam maior inclinação para o abuso de bebidas alcoólicas e, portanto, são alcoólatras ou caminham nesta direção.
“Muitos estudos mostraram uma ligação entre os padrões de linguagem e doenças específicas, como linguagem preditiva de depressão ou linguagem que aponta se alguém está vivendo com câncer. Olhando através dos muitos problemas de saúde, temos uma visão de como eles se relacionam entre si, o que pode permitir novas aplicações da inteligência artificial na medicina”, explicou Andrew Schwartz, co-autor do estudo, ao The Independent.
As doenças
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores reuniram dados demográficos, incluindo idade, sexo, registros médicos e informações de mídias sociais de 999 pessoas. Eles também analisaram 949.530 postagens dessas pessoas, totalizando 20.248.122 palavras. A partir desses dados, foi possível identificar 21 condições diferentes: problemas digestivos ou abdominais, distúrbios urinários e genitais, lesões e envenenamento, sintomas respiratórios, gravidez, doenças de pele, doença crônica pulmonar (DPOC), anemia ferropiva, depressão, distúrbios de fluidos e eletrólitos, hipertensão, obesidade, ansiedade, psicose, abuso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), diabetes, anemia por perda de sangue, distúrbios da coagulação sanguínea, abuso de álcool e doenças vasculares. As postagens no Facebook foram mais eficientes do que as informações demográficas no diagnóstico de dez dessas condições.
Diante dos resultados, os pesquisadores sugerem o desenvolvimento de sistemas que permitam aos pacientes disponibilizarem suas informações de mídia social aos médicos como forma de fornecer dados adicionais para garantir melhores diagnósticos e tratamentos. “Por exemplo, se alguém está tentando perder peso e precisa de ajuda para entender suas escolhas alimentares e exercícios, ter um profissional de saúde revisando seu registro de mídia social pode dar a ele mais detalhes sobre seus padrões usuais para ajudar a melhorá-los”, comentou Raina Merchant, co-autora do estudo, ao The Telegraph.
Apesar das possíveis vantagens, os pesquisadores não deixam de salientar que este compartilhamento de informação pode aumentar riscos relacionados às redes. O próprio Facebook está envolvido em escândalos de violação de segurança e privacidade. Aliás, a empresa faturou 56 milhões de dólares no ano passado (215,6 milhões de reais) somente com o rastreamento de usuários para venda de anúncios direcionados.
Embora exista essa preocupação, a equipe não fez sugestões de como evitar problemas desta natureza. Apesar dos riscos, os pesquisadores pretendem testar, ainda este ano, o acesso a essas informações por profissionais de saúde como forma de diagnosticar e tratar doenças.