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Como identificar sinais e prevenir suicídio entre adolescentes

Segundo a OMS, 90% dos casos podem ser evitados; estar atento aos avisos que a pessoa dá é essencial para impedir a tragédia

Por Marcella Centofanti
Atualizado em 30 abr 2018, 22h02 - Publicado em 30 abr 2018, 17h23
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  • A divulgação de casos recentes de suicídio entre alunos de escolas particulares de São Paulo deixou adolescentes, pais e professores alarmados. Há motivos para preocupação. Embora adultos se matem mais, o crescimento desse tipo de fatalidade entre os jovens é maior no Brasil. De 2005 a 2016, últimos dados disponíveis no Ministério da Saúde, o suicídio na faixa etária de 10 a 14 aumentou 31%, passando de 0,54 para 0,71 por 100.000 habitantes. Entre aqueles com 15 a 19 anos, subiu 26%, saltando de 2,97 para 3,76 por 100.000 pessoas. Estudiosos no tema acreditam que os números reais sejam maiores — o tabu provoca subnotificação. Diante desse cenário, surge o debate: como impedir que novas tragédias aconteçam?

    Mortes autoinfligidas são arrasadoras para familiares e amigos da pessoa que se suicidou. Uma estimativa feita pela psicóloga Julie Cerel, presidente da Associação Americana de Cuidados com o Suicídio, revela que 135 indivíduos são afetados, em média, quando alguém tira a própria vida  um terço de forma mais severa. Cerca de 5% de todos esses afetados repetem o comportamento.

    De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados. As comunidades desempenham um papel fundamental na prevenção dessa tragédia, segundo a OMS, na medida em que podem oferecer apoio a indivíduos vulneráveis e estimular seu tratamento apropriado.

    Hoje, no Brasil, o principal meio disponível para quem precisa de ajuda é o Centro de Valorização da Vida (CVV)associação sem fins lucrativos que há 54 anos oferece serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio. O Ministério da Saúde recorreu ao CVV para tentar barrar o crescimento de mortes autoprovocadas no país. Desde março de 2017, as ligações ao número 188 são gratuitas, inclusive por celular e orelhão. Com a mudança, os atendimentos saltaram de 1 milhão para 2 milhões por ano. A projeção para 2018 é 2,5 milhões.

    O CVV não tem informações sobre a idade das pessoas que procuram o serviço, uma vez que as ligações são anônimas. No entanto, a associação estima que o número de adolescentes em busca de socorro aumentou. “Percebemos que jovens gostam de se comunicar por chat e e-mail. Na época do lançamento do seriado 13 Reasons Why, os atendimentos por e-mail cresceram 445%”, afirma Carlos Correia, porta-voz do CVV. Divulgada em 2017, a série da Netflix conta a história de uma menina que tira a própria vida.

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    Alguns fatores explicam por que adolescentes podem tomar essa atitude tão drástica. Com o cérebro em formação, jovens são naturalmente mais impulsivos. Há ainda a imaturidade inerente à idade, predisposição genética e influências ambientais e sociais. Histórico familiar, abusos (físicos, sexuais e psicológicos, como o bullying), uso de álcool e drogas e distúrbios mentais (depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia são alguns deles) estão entre os fatores de risco.

    Como ajudar

    De acordo com a OMS, a maioria das mortes autoprovocadas é precedida de avisos  é mito que indivíduos que falam sobre suicídio não querem concretizá-lo. Por isso, o primeiro passo para evitar que uma pessoa tire a própria vida é estar atento aos sinais verbais e comportamentais que ela dá (veja mais no texto abaixo).

    Com a experiência de 26 anos como voluntário no CVV, Carlos Correia aponta a maneira correta de ouvir um desabafo alheio. “Não interfira na fala da pessoa, não julgue, não desmereça o sentimento dela e não aponte caminhos. Ouça o que o outro tem a dizer com atenção, carinho e respeito”, diz. Ofereça seu tempo. “Você vai quebrar a narrativa da pessoa se olhar no relógio enquanto ela fala.” Esteja disponível para conversar novamente e informe sobre ajuda profissional  o papo entre amigos não substitui o suporte médico e psicológico. “É preciso quebrar o tabu do suicídio. E falar sobre ele é a melhor solução para isso”, afirma Correia.

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    A psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, especialista nos estudos de suicídio e pós-doutora em psicologia, listou sinais a que familiares, professores e amigos devem ficar atentos:

    Sinais de alerta verbais

    “Resolverei o problema de vocês”
    “Em breve, vocês não precisarão se preocupar comigo”
    “Se isso acontecer novamente, prefiro estar morto”
    “Não aguento mais!”
    “Eu sou mesmo um fracassado e inútil”
    “Estou cansado dessa vida, não quero continuar”
    “Eu não consigo aguentar isso”
    “Quero sumir!”

    Sinais de alerta comportamentais 

    Automutilação
    Isolamento
    Perturbações no sono (excessivo ou insônia)
    Dificuldade de concentração
    Irritabilidade, intensa raiva, desejo de vingança
    Medos e preocupações
    Pensamentos sobre morte ou sobre morrer
    Culpa, vergonha e cobranças por não ter atingido expectativas
    Oscilação de humor, pessimismo, desesperança, desespero, desamparo
    Ansiedade, dor psíquica e stress acentuado
    Sensação de estar preso e sem saída
    Desfazer-se de objetos importantes
    Despedir de parentes e amigos

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