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Cheiros ligados à memória afetiva podem ajudar a tratar depressão

Pesquisadores descobriram que determinados aromas podem ser mais eficazes do que palavras para reacessar lembranças positivas

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 17h17 - Publicado em 15 fev 2024, 10h00
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  • Quem nunca se deparou com um cheiro que evocasse boas lembranças? A nossa memória afetiva tem a capacidade de desencadear uma reação neurológica que associa determinado aroma a fatos significativos do passado. Esse é o tema de um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh e do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh (UPMC), publicado nesta terça-feira, 13, na revista JAMA Network Open.

    A pesquisa mostrou que, quando se trata de acionar a memória de um evento específico, os odores são mais eficazes do que as palavras. Por isso, poderiam até ser usados no ambiente clínico para ajudar pessoas deprimidas a sair de ciclos de pensamentos negativos e reestruturar padrões de ideias e julgamentos, auxiliando em uma recuperação mais rápida e suave.

    Especialista em neurociência e participante do estudo, Kymberly Young já havia constatado previamente que as amígdalas cerebrais não são só responsáveis pela nossa resposta de “luta ou fuga”, mas também direcionam a atenção e o foco para eventos importantes, ou seja, ajudam no acesso de memórias. “Isso porque, provavelmente, a amígdala se correlaciona diretamente com o bulbo olfativo (região do cérebro responsável pelo sentido do cheiro) por meio de conexões nervosas”, diz ela, com base em extensas evidências de que pessoas com depressão têm dificuldade em resgatar memórias de vida específicas, ao passo que, em indivíduos saudáveis, os odores desencadeiam lembranças que parecem vívidas e reais.

    Abordagem Simples

    Assim, a médica decidiu testar se com algum estímulo, a amígdala poderia ajudar os indivíduos deprimidos a entrarem em contato com suas memórias de forma mais eficaz. Só que ao invés de usar testes de scanner cerebral, caros e muitas vezes inacessíveis, ela optou por uma abordagem mais simples. Young apresentou aos participantes uma série de frascos de vidro opacos contendo odores familiares – desde laranjas, café moído e graxa de sapato até descongestionante nasal. Após cheirarem o frasco, ela pediu que as pessoas lembrassem de uma memória específica, boa ou ruim.

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    Os especialistas constataram que as lembranças eram mais vívidas em indivíduos deprimidos que receberam estímulos olfativos em comparação com os que receberam somente estímulos verbais. Além disso, os primeiros apresentaram mais probabilidades de evocar uma memória de um evento específico (por exemplo, que foram a uma cafeteria na última sexta-feira) do que memórias gerais (que já tinham ido a cafeterias antes).

    Memórias Reais

    As memórias desencadeadas por odores também pareciam mais imersivas e reais. E, curiosamente, mesmo que não tivessem sido orientados a lembrar especificamente de momentos felizes, eram mais propensos a lembrar de eventos positivos.

    “Se melhorarmos a capacidade dos pacientes em acessar a memória, podemos melhorar a resolução de problemas, a regulação emocional e outros distúrbios funcionais que os indivíduos deprimidos frequentemente enfrentam”, disse Young.

    Agora, os pesquisadores se preparam para iniciar estudos mais elaborados com um scanner cerebral para comprovar que, de fato, os odores ajudam a estimular as amígdalas cerebrais de indivíduos deprimidos de forma mais eficaz do que as palavras. Desses resultados, podem sair novos tratamentos para a depressão.

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