Dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo apontam que, entre janeiro e setembro deste ano, foram contabilizados 559 casos de hepatite A na cidade – índice 773% maior do que os registros de 2016, quando 64 casos foram notificados. Até agora, duas pessoas morreram e outras quatro evoluíram para uma forma mais grave da doença, que precisaram de transplante de fígado.
Casos
“Tivemos um pico no mês de julho e esse número veio declinando em agosto e setembro. A maior probabilidade é de que tenha relação com surtos que têm sido descritos na Europa, porque teve aumento em mais de 20 países em março”, disse Geraldine Madalosso, epidemiologista da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa).
Segundo a pasta, 45% dos casos estão relacionados a transmissão por sexo desprotegido, principalmente por via oral e anal — a maioria envolve homens homossexuais. “Outros 10% estão relacionados a água e alimentos contaminados, casos de pessoas que viajaram para locais com precárias condições de saúde e 45% são de causas a serem investigadas”, disse Geraldine.
Hepatite A
A doença é transmitida por meio de água e alimentos contaminados pelo vírus. O vírus também pode estar presente nas fezes das pessoas infectadas, contaminando outras por meio do contato sexual. Os principais sintomas são pele e olhos amarelados, dor abdominal, urina escura e fezes esbranquiçadas, que podem surgir até 15 depois do contágio. No entanto, existem casos assintomáticos, que não apresentam nenhum sinal.
Surtos mais graves
Embora a doença não evolua para uma forma crônica, como a B e a C, a hepatite A costuma ser bastante preocupante em adultos, mais do que em crianças. “Antigamente, o contato acontecia na infância, quando ela surge de forma leve e assintomática. Esses surtos em adultos mostram que ela é mais intensa na fase adulta. Muitos pacientes são hospitalizados por fraqueza, desidratação e isso está dentro da história natural da doença”, explicou a infectologista Umbeliana Barbosa, do Ambulatório de Hepatites do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
De acordo com Geraldine, medidas tem sido feitas para evitar que a doença continue se espalhando. “Desde abril, temos feito a divulgação para os serviços de saúde e boletins para os profissionais de saúde e a população. A principal forma de prevenção é a vacina, que está disponível para crianças menores de 5 anos na rede pública e é gratuita. As demais pessoas podem se beneficiar da vacina na rede particular.”
“O ideal é se vacinar, tomar as medidas de higiene e usar preservativo. O problema é que está se falando sobre HIV há 30 anos, mas as pessoas pensam que a situação está controlada e se esquecem que há sífilis, gonorreia e outras doenças transmitidas pelo sexo, incluindo a hepatite A”, concluiu Celso Granato, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Vacinas em falta
A vacina foi incorporada em 2014 ao Programa Nacional de Imunizações para crianças de até 2 anos e, em março deste ano, passou a ser destinada para crianças de até 5 anos. A partir desta idade, só é possível buscar imunização em clínicas particulares.
No entanto, a vacinação para adultos está em falta. Segundo a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC), as doses do imunizante para crianças acabaram no mês passado e a versão para adultos, que são dadas em duas doses e um reforço custa de 160 a 180 reais, está em falta há cerca de seis meses.
Fabricantes
A multinacional farmacêutica Sanofi Pasteur informou, em nota, que houve um aumento inesperado da demanda pela vacina contra a hepatite A. “Como o imunizante é produzido fora do país, precisa cumprir diversas regras sanitárias de importação”. A empresa disse ainda que trabalha para atender aos novos pedidos o mais rápido possível, mas não informou prazos.
A GlaxoSmithKline também disse enfrentar problemas de desabastecimento. A vacina para adultos que previne contra as hepatites A e B ainda está disponível em algumas clínicas, mas as doses recebidas pela empresa não foram suficientes para atender todos os interessados. “Em relação à vacina que previne contra a hepatite A pediátrica e adulta, a regularização dos estoques tem previsão para 2018″, disse em comunicado.
(Com Estadão Conteúdo)