Uma nova pesquisa aponta que uma dieta à base de vegetais pode aliviar os efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata, incluindo disfunção erétil e problemas urinários. Os resultados foram publicados na revista científica Cancer, da American Cancer Society (ACS)
A pesquisa analisou mais de 3.500 homens com câncer de próstata, divididos em cinco grupos com base na proporção de alimentos de origem animal versus à base de plantas que os participantes relataram consumir. Assim, concluiu-se que o grupo que consumia a maior proporção de vegetais obteve pontuações até 11% mais altas em medidas como função sexual em comparação com o grupo que ingeria menos frutas, hortaliças e afins.
Os resultados também mostraram até 14% de pontuações mais altas para ganhos em saúde urinária, com menos episódios de irritação, obstrução e incontinência. Além disso, o grupo de maiores consumidores de plantas relatou menos sintomas ligados a depressão e falta de energia.
Diante dos dados obtidos, os autores sugerem que limitar a ingestão de carne e laticínios e aumentar o consumo de frutas, legumes, nozes e grãos pode reduzir os efeitos adversos do tratamento da doença. Sublinha, ainda, que os achados trazem esperança para aqueles que buscam maneiras de melhorar sua qualidade de vida após passar por cirurgia, radioterapia e outros tratamentos comuns para tumores de próstata, capazes de gerar efeitos colaterais.
A mesma equipe realizou pesquisas anteriores constatando que uma dieta à base de plantas pode, inclusive, reduzir o risco de desenvolver câncer de próstata.
Em outro estudo, publicado no começo de maio, no periódico científico JAMA Network Open, pesquisadores reportaram que homens diagnosticados com câncer de próstata que mudam para uma dieta mais à base de plantas têm um menor risco de progressão da doença. A conclusão veio à tona após análise de dados de 2.000 homens nos estágios iniciais do câncer de próstata.
Como a descoberta foi feita
O time de pesquisa que detectou os efeitos da dieta predominantemente vegetariana nas reações adversas do tratamento do câncer de próstata avaliou informações de pacientes reunidos no Estudo de Acompanhamento de Profissionais de Saúde, uma investigação contínua comandada pela Escola de Saúde Pública T.H. Chan da Universidade Harvard, nos EUA, que começou em 1986. O trabalho leva em consideração dados de mais de 50 mil médicos, dentistas, farmacêuticos, veterinários, osteopatas etc.
O novo recorte do estudo tinha como objetivo analisar o impacto da nutrição sobre o câncer, doenças cardíacas e outras condições potencialmente graves. Homens com câncer de próstata responderam a um questionário a cada quatro anos sobre o que e quanto eles comiam.
A equipe também analisou a cada dois anos um questionário que avaliava dificuldades em manter uma ereção, a frequência de incontinência urinária e o estado de humor e energia, entre outros fatores de saúde.
Após os cruzamentos das informações, os cientistas notaram que, independentemente de questões de estilo de vida ou outras particularidades médicas, o consumo de grandes quantidades de alimentos à base de plantas estava associado a melhor saúde sexual, saúde urinária e pontuações de vitalidade entre os pacientes.
Esses resultados se somam à longa lista de benefícios para a saúde e o meio ambiente de comer mais plantas e menos produtos de origem animal. E também desafiam a concepção histórica de que comer carne melhora a função sexual em homens, quando na verdade parece ser o oposto.
Limitações do estudo e próximos passos
Os homens examinados no experimento eram em sua maioria profissionais de saúde brancos, que, segundo os autores, geralmente estão no escalão superior de saúde em comparação com a população em geral. A equipe agora ampliará sua pesquisa para um grupo mais diversificado de homens, incluindo aqueles com estágios mais avançados de câncer.
Os consumidores de plantas também entrariam no estudo com melhores métricas em relação a parâmetros como diagnóstico de diabetes e problemas cardiovasculares, mesmo antes de serem diagnosticados com câncer de próstata. Portanto, comparações pré e pós-tratamento são necessárias.
De qualquer forma, os autores esperam que um estudo como esse possa incentivar os urologistas a educar os pacientes sobre a importância da dieta e do estilo de vida durante o tratamento e a recuperação da doença.