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Cães estão sendo treinados para farejar a Covid-19 nos Estados Unidos

Estudo diz que os animais conseguem detectar a doença por meio do cheiro de biomarcadores liberados por pacientes infectados

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 fev 2022, 15h12

Com até 300 milhões de receptores olfativos, os cães estão entre os melhores detectores de cheiros do mundo animal. Para se ter uma ideia, o nariz humano contém apenas 6 milhões desses receptores. Além disso, os cérebros caninos têm 40% mais capacidade para analisar odores do que os humanos. Por isso, são treinados para detectar diversas coisas desde drogas ilegais e pragas agrícolas até pessoas desaparecidas e espécies de animais selvagens ameaçadas. Agora, cães estão sendo treinados para farejar a Covid-19.

Segundo um estudo da Universidade Internacional da Flórida, nos Estados Unidos, a doença provocada pelo novo coronavírus está entre as que os cães conseguem detectar por meio do faro. Isso porque, de acordo com os cientistas da universidade, os cães têm a capacidade de reconhecer os odores de substâncias chamadas “compostos orgânicos voláteis”, produzidos por organismos vivos, materiais naturais ou sintéticos, que estão associados aos alvos de busca. Nos humanos, eles são produzidos pela atividade metabólica do corpo e eliminados no ar por meio do sangue, urina, fezes, pele ou respiração. E aí entra a capacidade dos cães em poder reconhecer a Covid-19. Como eles têm a sensibilidade de farejar esses “biomarcadores”, conseguem detectar pacientes com certas doenças ou condições médicas crônicas, incluindo câncer e diabetes, por meio do hálito exalado pelo indivíduo.

“Acreditamos que os cães são uma grande promessa como um método de triagem rápida que, usado com outras medidas, como testes rápidos, pode ajudar a impedir a propagação da Covid-19 e até acabar com a pandemia”, dizem os pesquisadores da universidade norte-americana. “Alguns dos cães treinados durante nossa pesquisa já provaram suas habilidades em aeroportos e eventos públicos”.

Pesquisa e treinamento

Por várias décadas, o Instituto Internacional de Pesquisa Forense da Universidade Internacional da Flórida tem sido uma instituição global de pesquisa sobre cães detectores. A maior parte deste estudo concentrou-se na identificação dos compostos orgânicos voláteis específicos que os materiais naturais ou sintéticos e os organismos vivos produzem, e que os cães podem ser treinados para detectar.

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Na pesquisa mais recente, os cientistas levantaram a hipótese de que pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 liberariam compostos orgânicos voláteis específicos e, por isso, um cão de detecção de odor bem treinado seria capaz de diferenciar esses biomarcadores de outros. Assim, em colaboração com a Baptist Health South Florida, uma organização de saúde sem fins lucrativos, eles obtiveram máscaras faciais de pacientes hospitalizados com diagnóstico positivo e negativo para a Covid-19.

Em seguida, os pesquisadores treinaram quatro cães para responder às máscaras de pacientes positivos e ignorar máscaras de pessoas que testaram negativo ou não utilizadas. No processo, os cães aprenderam a diferenciar os biomarcadores originários do hálito de pacientes com e sem a doença. Após 40 testes duplo-cegos – as pessoas que treinavam os cães não sabiam quais máscaras eram quais – descobriram que cada um dos quatro cães detectou com precisão as máscaras de pacientes que testaram positivo em mais de 90% das vezes. A terrier Mac acertou em 96,2% das tentativas. Cobra, da raça malinois belga, acertou 99,4% das vezes. O pastor holandês One Betta acertou em 98,1% das tentativas, e Hubble, um border collie, 96,3% das vezes.

Após o estudo, Cobra e One Betta foram trabalhar no Centro de Comando de Operação de Emergência do Estado, em Tallahassee, Flórida, fazendo triagem de Covid-19 em superfícies. Em maio de 2021, ambos também colocaram suas habilidades de detecção no Food and Wine Festival, em Miami, e em setembro trabalharam em dois estudos piloto de 30 dias no Aeroporto Internacional de Miami, examinando indivíduos para a detecção da doença.

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Outras agências já estão começando a adotar os métodos da FIU para treinar cães com esse objetivo. Recentemente, o Gabinete do Xerife do Condado de Bristol, em Massachusetts, colocou dois jovens labradores, Duke e Huntah, para reconhecer indivíduos com a doença em instalações no distrito escolar regional de Freetown-Lakeville.

Próximos passos

Sabendo que os cães podem ser treinados para farejar a Covid-19, a universidade espera identificar os exatos compostos orgânicos voláteis envolvidos nesse processo de detecção. “Identificando quais biomarcadores estão ligados à doença, ajudará no desenvolvimento de materiais e auxílios de treinamento para ensinar outros cães a detectá-la”, dizem os pesquisadores. “Também podem contribuir para o desenvolvimento de sensores da Covid-19 que podem ser usados em dispositivos de detecção de odor e se juntarem a testes rápidos e cães farejadores como One Betta, Hubble, Mac e Cobra. Em conjunto, podem ajudar a controlar a pandemia”, finalizam os cientistas.

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