As madrugadas de pais e crianças se tornam difíceis quando ocorrem episódios de enurese noturna, conhecidos popularmente como “xixi na cama”. Além da troca de roupa, a condição que afeta 10% da população entre 5 e 17 anos tem impactos sociais e emocionais, como impedir dormir fora de casa e problemas de autoestima.
Diante do problema, o urologista brasileiro Ubirajara Barroso Junior desenvolveu um dispositivo para ajudar no processo de despertar quando a bexiga está cheia e evitar escapes de urina.
Batizado como Soluu™, o aparelho tem um dispositivo ligado ao forro da calcinha ou da cueca com um sensor de umidade e um adesivo que é colocado no períneo (região entre o genital e o ânus). Quando as primeiras gotas de urina são liberadas, o dispositivo emite uma vibração ou toca no celular dos pais. Isso vai despertar a criança. Os eletrodos, por sua vez, têm a função de promover uma contração do assoalho pélvico e fechar o esfíncter da uretra, impedindo a liberação da urina.
“É um processo de neuroplasticidade, que envolve um treinamento cerebral e o aprendizado É o único aparelho que permite esse aprendizado sem, contudo, haver a perda urinária à noite. Então, enquanto está aprendendo, a criança fica com a cama seca”, explica Barroso Junior, que é coordenador do Centro de Estudos Miccionais da Infância (Cedimi) da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Segundo o urologista, os testes apontaram que o equipamento proporcionou melhora do quadro a partir de 15 dias e o prazo máximo foi de 84 dias. O aparelho não é invasivo e pode ajudar crianças a recuperar a autoestima. “A partir dos 5 anos já é possível tratar. Nós sabemos que, principalmente a partir dos 7 anos de idade, se a criança faz xixi na cama pelo menos uma vez por semana, o não tratamento causa baixa autoestima, sensação de imaturidade e tristeza, porque a crianças se sente diferente.”
Uma das principais causas da enurese noturna é o fator hereditário. Estudos mostram que, se os pais tiverem a condição, a probabilidade de o filho apresentar o quadro chega a 77%.
“Parar de urinar na cama simbolicamente é um passo importante da maturidade da criança, isso também na visão dos pais”, diz o urologista, antes de revelar uma triste realidade que ocorre no Brasil: “Existe o estudo brasileiro de Minas Gerais que mostra que 40% das crianças de um ambulatório do SUS apanhavam por fazer xixi na cama. Os pais batiam nas crianças. Então, imagine o impacto de qualquer tratamento da enurese para criança. É uma mudança”.
Desenvolvido em parceria com o americano Andrew Kirsch, chefe do serviço de urologia da Emory University, o aparelho já recebeu prêmios como “melhor equipamento de urologia” pela American Academy of Pediatrics, “aparelho médico para crianças” no concurso realizado pelo Children’s Hospital of Philadelphia, nos Estados Unidos, e o concurso do Southwest National Pediatric Device Innovation Consortium.