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Os bons sinais e os fatos preocupantes em 5 meses de pandemia no país

Do desenvolvimento de vacinas ao risco da doença entre crianças: o que as últimas notícias apontam sobre o combate ao coronavírus

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 mar 2021, 21h44 - Publicado em 23 jul 2020, 19h02
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  • Neste domingo serão completados cinco meses do primeiro diagnóstico de Covid-19 no Brasil. De lá para cá, a pandemia avançou a passos largos chegando a todos os estados do país. Por outro lado, o poder público (principalmente governadores e prefeitos) e os profissionais da medicina e da ciência também aceleraram a marcha e apresentaram soluções para o caos: foram instalados hospitais de campanha em tempo recorde, pesquisas acerca da transmissão deram esclarecimentos sobre os ambientes de riscos e diversos testes clínicos de vacina foram autorizados, entre outros avanços sobre tratamento e cuidados necessários. Diz Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury: “Durante esse tempo, conseguimos acompanhar o avanço da doença e também mudamos de opinião, aprendemos a importância das máscaras e a ocorrência de transmissão na fase pré-sintomática. Também avançamos muito sobre o entendimento da coagulação do sangue nos pacientes com diagnóstico da doença, algo que não ocorre com a gripe por exemplo”. Diante das novidades diárias sobre o enfrentamento e o avanço do vírus, VEJA selecionou cinco notícias boas e cinco fatos preocupantes sobre a pandemia no Brasil que merecem atenção redobrada.

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    As boas notícias

    Brasil chega ao platô de casos

    Em 17 de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o Brasil encerrou a fase de crescimento descontrolado da doença e chegou ao esperado platô de casos, ou seja, a estabilização da doença. O chefe do setor de emergências da entidade, Michael Ryan, disse que esta é uma oportunidade para o Brasil “empurrar a doença para baixo”. Para o infectologista Celso Granato, esta é uma boa notícia sobretudo quando são analisadas regiões que já passaram por avanço severo da doença, mas agora ensaiam reaberturas com segurança. “Não haver um repique de casos diante dessas flexibilizações é muito positivo, pode nos dar pistas sobre como funciona a imunidade após o contato com a doença”, diz o médico. Levantamento de dados feito por VEJA aponta que a média móvel de casos diários no Brasil  nesta quinta-feira, 23, está no patamar de 39.332 registros. O número de mortes também mostra estabilidade com 1.056,3 registros na média móvel das últimas 24 horas.

    Testes com vacinas têm resultados positivos

    Na segunda-feira, 21 a Universidade de Oxford e o laboratório Astrazeneca anunciaram resultados positivos das fases de testes para o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19. De acordo com o documento publicado pela revista Lancet, o fármaco é seguro, apresenta efeitos colaterais leves e é capaz de induzir forte resposta imune em duas frentes do sistema imunológico: as células T e os anticorpos. O primeiro tem a função de encontrar e atacar células infectadas pelo vírus e o segundo é humoral, ele encontra o vírus em circulação no sistema sanguíneo e linfático. O estudo ainda passará por duas outras fases para que haja a conclusão de sua efetividade contra o novo coronavírus. Mas as análises iniciais são promissoras. Também na segunda-feira, o mesmo periódico científico anunciou achados positivos sobre uma vacina chinesa desenvolvida pelo laboratório CanSino Biologics. Na publicação, foi apontado que 90% dos participantes apresentaram células T ou anticorpos 28 dias após a vacinação.

    Máscara de pano contra a Covid-19

    De acordo com o rigoroso Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC), o uso de máscaras de pano é um forte aliado para barrar a transmissão do novo coronavírus. Um estudo citado pelo diretor do CDC, Robert R. Redfield, em entrevista ao Journal of American Medical Association pontua que a transmissão do vírus foi reduzida em um grupo de 75.000 profissionais de saúde após a indicação de uso do acessório de segurança em combinação com baterias de exames aos que apresentassem sintomas. Redfield afirmou que o controle da doença em todo o Estados Unidos seria possível em oito semanas caso todos utilizassem o item.

    Avanços nos estudos acerca da imunidade à doença

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    Uma pesquisa realizada por institutos de saúde de Singapura e publicado na respeitada revista científica Nature aponta que os anticorpos, fundamentais para promover a imunização contra a Covid-19 e encerrar a pandemia, podem durar por longos períodos em pacientes infectados. A análise foi baseada em 23 pessoas que sofreram de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) na epidemia de 2003 e foram plenamente recuperados. Os estudos pontuam que os pacientes apresentavam células T capazes de identificar e combater a contaminação ao vírus treze anos após a infecção. Os pesquisadores acreditam que este achado pode ser um indicativo de que a imunidade ao coronavírus funcione da mesma forma. Ainda não é uma resposta efetiva, cabe ressaltar, mas todos os avanços acerca da imunidade adquirida são de extrema importância para criar mecanismos para evitar uma segunda onda de casos.

    Encerramentos (totais e parciais) de hospitais de campanha

    Manaus e São Paulo são alguns dos estados que abriram mão do funcionamento de hospitais de campanha instalados para conter a pandemia. Feitos justamente em caráter emergencial para suprir demandas de atendimento durante o auge de casos, a queda de internações nesses ambientes e o fim de suas operações indicam avanços para a área onde estão instalados. “Os testes que fazemos ainda não são suficientes para determinar um real cenário da doença, mas a queda das internações é uma prova importante de que a doença está sob controle nas regiões onde isso ocorre”, diz Celso Granato.

    LEIA TAMBÉM: Especialistas dão notas sobre a resposta do Brasil ao coronavírus

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    Os fatos preocupantes

    Interiorização da doença
    Conforme o Ministério da Saúde anunciou no início de julho, a doença deixou de afetar apenas os grandes centros brasileiros e começou a caminhar em direção às cidades interioranas. De acordo com os dados mais recentes da pasta, 57% dos casos confirmados estão em cidades do interior, conta 43% nas regiões metropolitanas. Os óbitos, no entanto, ainda acontecem em sua maioria nos grandes centros urbanos, com 57% dos registros totais. A discrepância entre os dois já foi severamente maior, com 89% das mortes ocorrendo em regiões metropolitanas no começo da pandemia. Esse avanço é preocupante tendo em vista que as cidades do interior historicamente têm menos estrutura hospitalar do que os grandes centros. Prova disso é transferência de pacientes de Campinas, no interior paulista, para o hospital de campanha do Ibirapuera, na capital, anunciado pelo governador de São Paulo João Doria.

    Avanço da doença no Sul

    O crescimento da doença na doença na Região Sul, é de grande preocupação justamente por ocorrer a esta altura do ano. Os estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul são os que mais apresentam invernos rigorosos no país, e esta época é altamente propícia para a disseminação de vírus respiratórios. “As pessoas normalmente ficam em ambientes fechados, com janelas de ônibus e de escritórios trancadas, é tudo o que o vírus precisa para se disseminar”, diz Granato. Ou seja, além do risco de contágio já inerente ao novo coronavírus, a sazonalidade transforma-se num agravante.

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    Danos neurológicos

    Estudos recentes apontam que a infecção por coronavírus pode afetar o sistema nervoso, causando uma série de complicações de ordem mental, algo que não se sabia quando os casos começaram a espalhar-se pelo mundo. De acordo com estudos de caso analisados por especialistas do Reino Unido,  foram detectados psicose, confusão mental, depressão crônica e fadiga duradoura, mesmo entre pessoas mais jovens e que tiveram quadros mais brandos. Também houve o aparecimento de doenças raras como catatonia (uma paralisação física e mental) e a síndrome de Guillain-Barre (quando as defesas do organismo destroem os próprios nervos). Os especialistas explicam que o dano deve estar ligado pela forma exagerada como o sistema imunológico dos pacientes reage ao vírus. Isso desencadeia uma reação inflamatória prejudicial ao cérebro e ao sistema nervoso. 

    Riscos às crianças

    É sabido que as crianças são alvos menos comuns ao novo coronavírus. Entre elas, a prevalência e gravidade do vírus é menor. Para se ter uma ideia, a mortalidade de pacientes de 0 a 5 anos é de 0,3% do número total de vítimas fatais brasileiras. Mesmo diante deste prisma, é de grande preocupação a identificação da rara síndrome pediátrica inflamatória multissistêmica, ou doença de Kawasaki. A condição foi identificada por médicos italianos e americanos em pacientes ainda crianças da Covid-19, segundo um estudo da revista The Lancet. A doença causa inflamação dos vasos sanguíneos. Portanto, ainda que o vírus apresente risco moderado aos mais novos, é de extrema importância adotar o distanciamento social (sempre que possível) e medidas de higiene do mesmo modo como ocorre com os adultos.

    Fila de 10 milhões de exames

    Conforme apontou reportagem de VEJA, ainda que especialistas sejam categóricos em pontuar a testagem em massa como um método eficaz de controle da pandemia, o país encontra problemas nesse setor. Dados do Ministério da Saúde da última semana pontuam que mais de 10 milhões de testes do tipo RT-PCR (o mais confiável) e sorológicos encaminhados pela pasta aos estados brasileiros ainda não foram processados. Ao todo, foram 11,3 milhões de testes comprados pelo governo federal, mas somente 1,2 milhão utilizados. O gargalo é causado por problemas de municípios em armazenar os testes de maneira adequada, sobretudo em regiões mais pobres. O índice de testes realizados atualmente é insuficiente para oferecer um panorama realista do avanço da doença no país, mesmo com números de testagem gradativamente maiores desde o começo da pandemia. Deste modo, seria de grande necessidade a distribuição dessas análises já compradas, mas não utilizadas.

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