Os medicamentos que compõem as pílulas antivirais desenvolvidas para tratar a Covid-19 são eficazes contra a variante ômicron. É o que mostra um estudo feito pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, divulgado nesta quarta-feira, 26, no New England Journal of Medicine.
Os testes de laboratório, no entanto, também mostraram que os tratamentos de anticorpos disponíveis – normalmente administrados por via intravenosa em hospitais – são substancialmente menos eficazes contra a ômicron do que contra as outras variantes do coronavírus. Alguns, inclusive, perderam completamente a capacidade de neutralizar a ômicron já que esses remédios foram clinicamente projetados e testados antes que os pesquisadores identificassem essa variante, que difere significativamente das versões anteriores do vírus.
O próximo passo são os ensaios clínicos para verificar a real a capacidade das pílulas antivirais em combater a ômicron. Se for confirmada a eficácia, será uma ótima notícia para os médicos e autoridades de saúde pública, que esperam que esses comprimidos se tornem um tratamento cada vez mais comum para a Covid-19, reduzindo a gravidade da doença e diminuindo a carga de hospitais. “A boa nova é que temos contramedidas para tratar a ômicron”, disse Yoshihiro Kawaoka, líder do estudo da Universidade de Wisconsin-Madison. “Tudo isso, porém, está em estudos de laboratório. Se traduz em humanos, ainda não sabemos”. Outro problema é que, por enquanto, as pílulas permanecem em falta durante a atual de Covid-19, provocada pela nova cepa.
Em experimentos de laboratório usando células de primatas não humanos, a equipe de Kawaoka testou um conjunto de anticorpos e terapias antivirais contra a cepa original do vírus da Covid-19 e suas principais variantes incluindo a alfa, delta e ômicron. A pílula molnupiravir, da Merck (MSD no Brasil) e o medicamento intravenoso remdesivir foram tão eficazes contra a variante ômicron quanto contra as outras cepas. Em vez de testar a pílula Paxlovid, da Pfizer, projetada para ser tomada via oral, a equipe testou um medicamento relacionado da farmacêutica, que é administrado por via intravenosa. As duas drogas interrompem a mesma parte da replicação viral, com a forma intravenosa mantendo sua eficácia contra a variante.
Os outros quatro tratamentos de anticorpos testados pelos pesquisadores, no entanto, foram menos eficazes contra a ômicron do que contra as cepas anteriores do vírus. Dois deles, sotrovimab, da GlaxoSmithKline e Evusheld, da AstraZeneca, mantiveram alguma capacidade de neutralizar o vírus, mas exigiram de 3 a 100 vezes mais drogas para se obter algum resultado (os anticorpos da AstraZeneca não são aprovados para uso nos EUA). E dois tratamentos de anticorpos feitos pela Lilly e Regeneron foram incapazes de neutralizar a ômicron em dosagens comuns.
Essas descobertas são esperadas, dada a forma como a variante ômicron difere das cepas anteriores do SARS-CoV-2, pelas dezenas de mutações na proteína spike, que o vírus usa para infectar as células humanas. A maioria dos anticorpos foi projetada para se ligar e neutralizar a proteína spike original, ou seja, grandes mudanças nessa proteína podem tornar os anticorpos menos propensos a se conectar a ela.
Em contraste, as pílulas antivirais têm como alvo a maquinaria molecular que o vírus usa para fazer cópias de si mesmo dentro das células. A variante ômicron tem apenas algumas alterações nesse mecanismo, o que torna mais provável que os medicamentos mantenham sua capacidade de interromper esse processo de replicação viral.