Usados há mais de 70 anos, os antidepressivos ainda carregam mistério quanto ao seu mecanismo de ação. Assim, a ciência continua buscando respostas sobre como essas drogas funcionam e qual a chave para que o tratamento tenha sucesso, pois ele é eficaz em metade das tentativas, levando os pacientes a trocarem de medicação até encontrarem a mais adequada. Um novo estudo parece ter encontrado uma importante pista: esses fármacos trabalham em duas vias na memória, reduzindo as lembranças ruins e melhorando a memória geral.
O estudo, publicado no periódico científico Frontiers in Human Neuroscience, foi conduzido por pesquisadores da Rice University, no estado americano do Texas, com 48 voluntários de 18 a 35 anos em tratamento para depressão há, ao menos, um mês antes do ensaio. Na análise, o grupo admitiu os participantes sem determinar o tipo de fármaco que estavam tomando nem o diagnóstico. Dessa forma, avaliaram o impacto dos antidepressivos na memória.
Estudar a atuação da droga nesta área pode ser considerado algo inovador, porque é um campo pouco explorado por ter relações com funções cognitivas. Assim, há mais perguntas do que respostas. “Embora os antidepressivos existam desde a década de 1950, não entendemos completamente como esses medicamentos reduzem os sintomas depressivos e por que são tão frequentemente ineficazes. Isso é um grande problema”, disse, em comunicado, Stephanie Leal, autora do estudo e professora assistente de ciências psicológicas na universidade.
Segundo Stephanie, os medicamentos funcionam em cerca de 50% das tentativas, de modo que trocas de remédios são realizadas durante o tratamento até que esteja ajustada e o paciente apresente melhora. O problema é que as pessoas que sofrem com depressão podem ter a sensação de que a proposta medicamentosa não tem sucesso, o que pode causar problemas de adesão ou fazer com que eles abandonem o tratamento.
Os pesquisadores levaram em consideração que a depressão envolve a desregulação emocional e do humor, bem como déficits cognitivos. O estudo ressalta que indivíduos deprimidos apresentam comprometimento geral da memória com a característica de lembrar mais de episódios negativos do que dos positivos ou neutros.
“Ao medir como os antidepressivos afetam a memória, podemos usar essas informações para selecionar melhor os tratamentos, dependendo dos sintomas de depressão das pessoas”, completou Stephanie. O grupo avalia que novos estudos devem ser realizados para aprofundar os efeitos dos antidepressivos na memória e na gravidade dos sintomas da depressão.
No Brasil, venda de antidepressivos registra alta
A depressão, assim como a ansiedade, são problemas mundiais e, são condições que têm registrado aumento no número de casos principalmente após a pandemia de Covid-19. No Brasil, o crescimento de notificações também aparece nos índices de vendas de medicamentos para essas doenças: o período de agosto de 2022 a julho deste ano, foi contabilizado um aumento de 7%, segundo um levantamento da InterPlayers, hub de negócios da saúde e bem-estar.
O percentual mais alto foi registrado em São Paulo, com alta de 10%. Na outra ponta, está Goiás, onde ocorreu uma queda de 15% nas vendas. Ainda de acordo com a empresa, na comparação entre julho e janeiro deste ano, houve um salto de 19% nas vendas.
“O levantamento mostra onde há maior demanda pelos medicamentos, tornando-se uma referência para gestores de saúde. Assim, eles podem direcionar investimentos e ações com mais precisão para áreas específicas, o que inclui desde a oferta de remédios até a expansão da rede de tratamentos”, explica Ilo Souza, gerente de Inteligência Comercial da InterPlayers.
Segundo o Ministério da Saúde, a prevalência de depressão ao longo da vida entre os brasileiros está em torno de 15,5%. Por ser uma condição grave, o paciente precisa de acolhimento dos amigos, familiares e empregadores, além de tratamento com profissionais especializados, como psiquiatras (para a prescrição de antidepressivos) e psicólogos, que vão conduzir as sessões de terapia. Com esse conjunto de ações, é possível amenizar os sintomas e fazer com que o paciente alcance a remissão da doença.
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